Surpresa romena na disputa pela Palma de Ouro

Por Rodrigo Fonseca | Especial para Correio da Manhã

Três Quilômetros do Fim do Mundo

Há quase 20 anos, um drama chamado " A Morte do Sr. Lazarescu" apesentou ao mundo, a partir de Cannes, uma nova leva de diretores que vinham da Romênia - um país até então sem muita expressividade nas telas. Era a gênese da chamada Primavera Romena, onda autoral de filmes marcados por toques de humor ácido, sempre centrados nas incongruências de seus governos. Dali veio uma Palma de Ouro: "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias" (2007), de Cristian Mungiu. Este ano, um novo (e fortíssimo) concorrente daquele país se destaca em concurso a Croisette: "Três Quilômetros Para o Fim do Mundo", de Emanuel Parvu.

Sua trama denuncia a violência da homofobia e a cura gay. Na trama, ambientada no delta do Danúbio, um jovem é agredido brutalmente. Seu pai quer justiça e denuncia o crime à polícia. Mas ao saber que o rapaz é homossexual, ele e a mulher decidem procurar formas de "curar" o filho, incluindo uma cerimônia religiosa com um padre. Ao largo do que nos é mostrado, Parvu cartografa a corrupção que existe no estado romeno, a partir do policial que quer se aposentar cedo e de figuras que o subornam. O próprio sacerdote retratado em cena tem uma conduta nada louvável. Essa abordagem pode dar ao longa um dos troféus a serem decididos pelo júri presidido pela atriz e diretora Greta Gerwig.

Até o momento, de todos os concorrentes exibidos o que mais - e melhor - apresenta credenciais para prêmios é "Oh Canada", de Paul Schrader, impecável tanto na carpintaria de roteiro quanto na atuação de Richard Gere. Ele vive um documentarista em estado terminal que relembra do tempo em que desertou da Guerra do Vietnã. É um estudo sobre o pacifismo e a noção de pátria.
Nas mostras paralelas, Leos Carax faz barulho com "C'Est Pas Moi", um experimento de 40 minutos sobre a força da imagem a partir de seus próprios filmes.