A hora de um clássico

'A Hora da Estrela', filme que adapta obra de Clarice Lispector, volta restaurado aos cinemas

Por Naief Haddad (Folhapress)

Com nenhuma vivência nas telas, a jovem Marcélia Catarxo brilhou no papel da sonhadora Macabéa, arrancando premiações

Quando começou a filmar "A Hora da Estrela", em 1984, a cineasta Suzana Amaral já tinha uma história e tanto. Com pouco mais de 50 anos, ela havia dado à luz nove vezes, cursado cinema na Universidade de São Paulo, feito especialização na Universidade de Nova York e realizado documentários para a TV Cultura, entre muitas outras coisas.

Em meio aos planos para rodar seu primeiro longa-metragem, baseado no romance de Clarice Lispector, Amaral assistiu a uma peça chamada "Beiço de Estrada". Apresentado por um grupo de Cajazeiras, cidade do sertão da Paraíba, o espetáculo passava por São Paulo para uma curta temporada.

A cineasta viu a peça uma, duas, três vezes. Ficou fascinada com o elenco e, já àquela altura, sondou a jovem atriz Marcélia Cartaxo para interpretar Macabéa, a protagonista de "A Hora da Estrela", filme que volta agora aos cinemas, em cópia restaurada.

"Na época, eram comuns os questionamentos em relação aos atores que vinham do teatro para fazer cinema porque tinham gestos largos, eram exagerados. A Suzana ficou impressionada com meu trabalho contido no palco", lembra Cartaxo.

Naquele momento, no entanto, não havia orçamento suficiente para produzir o filme. A atriz voltou para a Paraíba e, nos oito meses seguintes, recebeu oito cartas de Amaral em que a diretora falava sobre a personagem de Lispector.

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