Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Marco Antonio de Carvalho: 'A comédia é o gênero mais visto no Brasil, mas ainda enfrentamos muito preconceito'

Marco Antônio de Carvalho, cineasta | Foto: Divulgação

Fazer Glu-Glu e Yeah-Yeah com Sérgio Mallandro não é faro-fafá, não. Demanda um ritmo de humor que um cineasta como Marco Antonio de Carvalho teve de aprender no set ao fazer o longa-metragem do comediante que foi ícone de gerações na TV aberta, nos anos 1980 e 90, e reinventou seu dom de arrancar gargalhadas pelas vias da stand-up comedy.

Coube ao diretor revisitar as múltiplas reinvenções pelas quais Sérgio passou ao longo de sua carreira no filme "Mallandro: O Errado Que Deu Certo", uma promessa de salas lotadas pela azeitada mistura de riso e emoção em seu afiado roteiro. A estreia acontece nesta quinta-feira (12).

Na entrevista a seguir, Marco Antonio - que tem uma bela estrada como assistente de direção no currículo - explica como foi explorar novas veredas cômicas com um ídolo que busca novas vertentes na tela grande.

O que Sérgio Mallandro representa como ícone cultural? Como foi lidar com essa imagem icônica?

Marco Antonio de Carvalho: Mallandro simboliza uma era da televisão brasileira que era mais aberta a um humor despretensioso e muitas vezes nonsense. Ele contribuiu muito para a cultura pop com a criação de um personagem exagerado e cômico que conquistou uma legião de fãs. Além disso, ele é frequentemente associado à nostalgia dos tempos áureos da TV aberta no Brasil, quando programas de auditório e variedades eram extremamente populares. Sérgio Mallandro representa a capacidade de um comediante de se reinventar e permanecer relevante ao longo dos anos, como representado no longa, sempre trazendo seu estilo único e divertido que marcou gerações. Por já ter trabalhado com ele na televisão e tê-lo como amigo, acabei lidando muito mais com o Sérgio Neiva Cavalcanti do que com o Sérgio Mallandro, o que facilitou muito na hora de contar um pouco da sua história.

Qual é o maior desafio de se fazer comédia no Brasil hoje? Como é a sua relação com o gênero?

Acredito que é mais fácil envolver o espectador em um drama e arrancar uma lágrima do que fazer rir, pois hoje temos muitos artifícios técnicos que ajudam nesse aspecto. Fazer rir é mais complicado. Mesmo com uma boa piada, é preciso um timing perfeito para que ela funcione. A comédia brasileira é o gênero mais visto no Brasil, mas ainda enfrentamos muito preconceito. No meu filme, por exemplo, pude ver em Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo pessoas rindo alto, divertindo-se e se emocionando. Eu entrava nas salas escondido e ficava em um canto observando as reações, e todas foram ótimas. Depois, vi alguns poucos influenciadores com milhares de seguidores, que se dizem críticos, fazendo comentários sem conhecimento cinematográfico ou espalhando mentiras. Comentários negativos e infundados acabam afastando milhares de pessoas de assistir a um filme brasileiro nos cinemas, prejudicando um mercado já difícil de conquistar, especialmente com grandes produções estrangeiras dominando as salas de cinema no nosso país. Na vida, sou muito difícil de rir com alguma piada. Quando fui convidado para dirigir este filme, sabia que estaria lidando com um dos humoristas mais icônicos do nosso país. Mesmo já conhecendo o Sérgio, procurei estudar toda a sua vida e entender o tipo de piada que ele fazia e como ele as executava, para garantir que funcionassem no filme. Acredito que, mesmo sem nunca ter trabalhado em um longa de comédia, o filme ficou engraçado na dosagem que eu esperava. O que facilitou o trabalho foi o ótimo roteiro e um elenco talentoso.

Como foi a parceria com a Glaucia Camargos no processo do filme?

A Glaucia Camargos foi a melhor produtora com quem trabalhei até hoje. Nós nos demos muito bem desde a nossa primeira reunião, compartilhamos gostos muito parecidos para filmes, séries e música, além de uma paixão comum por fazer cinema de qualidade. Como partilhamos do mesmo pensamento, ela me deixou bastante à vontade para realizar o meu trabalho e me permitiu participar ativamente de todos os processos do filme. Isso fez uma grande diferença no resultado final, pois este longa, além de ter o olhar do produtor, também tem o olhar do diretor, o que não é muito comum no nosso mercado, uma vez que a palavra final geralmente é do produtor do filme.

Quais são seus próximos projetos?

Ainda este ano, vou estrear meu segundo longa como diretor, "Tudo Por Um Pop Star 2", com distribuição da Disney, estrelado pelas atrizes Bela Fernandes, Gabriella Saraivah e Laura Castro. O roteiro é de Thalita Rebouças. Além disso, tenho mais dois longas encaminhados com a Glaucia Camargos: uma comédia e um drama jovem, mas ainda não posso revelar os detalhes.