Por Pedro Sobreiro
Com a estreia de 'Divertida Mente 2' nos cinemas, o público vai conhecer alguns personagens novos, como a Ansiedade e o Tédio, mas também vai revisitar as emoções que cativaram uma geração no primeiro filme, como a Alegria, a Tristeza e a Raiva. A convite da Disney, o Correio da Manhã conversou com Katiuscia Canoro e Leo Jaime, as vozes brasileiras da Tristeza e do Raiva, respectivamente, e com a estreante Eli Ferreira como a Tédio.
"Fiquei feliz desde o convite para o teste, porque fui muito animada e com uma expectativa grande. E quando veio o resultado de que eu tinha passado, fiquei super feliz. A construção da Tédio foi olhar para a personagem e a cena, tentando entender seus jeitos e como ela falava. Claro que vi o trailer no idioma original, mas construí a Tédio em cima do que era passado na tela e com a orientação do nosso diretor, Rodrigo Andreatto. E a gente recebe o roteiro na hora, então não tem tempo para estudar. Descobri ali que a Tédio tem sua energia. É sarcástica, mal-humorada, então tem um quê de inveja também. Foi gostoso entender o nível de energia e volume que precisava colocar nas cena", revela Eli.
Se pelo lado estreante já houve essa grande ansiedade, o elenco do primeiro filme teve um hiato de nove anos para entender o sucesso do primeiro e lidar com a incerteza se haveria ou não uma continuação. "Fiquei muito feliz quando o primeiro 'Divertida Mente' ganhou o Oscar de Melhor Animação, senti como se eu tivesse ganhado o Oscar. E fiquei ansioso para que fizessem o dois, mas também morrendo de medo de não me chamarem de volta para a sequência", revela Leo Jaime.
Protagonismo
Já Katiuscia Canoro, que viveu a Tristeza no primeiro filme, que se revela a surpreendente protagonista da história, disse que se surpreendeu quando confirmaram que ela viveria o papel lá em 2015. "Foi uma loucura interpretar a Tristeza. Primeiro que eu achei que não tinha passado no teste. Foi uma surpresa muito grande, porque a recomendação foi não fazer uma voz diferente da nossa, mas eu não fiz a minha voz. A voz da Tristeza é completamente diferente da minha", disse.
Ela também contou que não tinha percebido o tamanho do papel quando fez o filme e que as pessoas não costumam reconhecê-la no papel. "A gente não assiste o filme antes da dublagem, e a gente não dubla as cenas em ordem cronológica. Então, eu não percebi e, na verdade, nunca me atentei a esse lugar de protagonismo da Tristeza. Para mim, ela era realmente muito importante, porque o sentimento da tristeza, em todos nós, é o primeiro que surge, né? A gente nasce chorando, não nasce rindo. E também não recebo muito o feedback das pessoas, porque acho que a maioria não sabe que eu fiz a Tristeza. Minha voz no filme é muito diferente. E na época do primeiro filme, eu não lembro muito bem como foi a divulgação, mas o público em geral não dá muito valor para a dublagem", comentou Katiuscia.
Um dos maiores desafios da dublagem é manter o tom do personagem. E a dificuldade aumenta quando se passam nove anos entre uma produção e outra.
"Em 'Divertida Mente', quando me chamaram para fazer o teste, já fui pensando que não ia passar. Mas quando apareceu o monitor e os sistemas de computador, que mostram o tempo e as variações de voz, eu usei minha noção de tempo de música para entender o tempo da voz do personagem, para entender o que ele vai falar, qual tom sobe, qual tom desce... Para mim, foi como ler uma partitura musical. Me guiando por essa leitura da música, acabou sendo muito fácil. E aí teve essa questão da gente não ver os outros atores. A gente não se reúne para discutir roteiro, para falar sobre os personagens. A gente vê a cena e faz perguntas a quem nos dirige. E a gente tem um diretor maravilhoso, que é o Rodrigo Andreatto, que nos guia o caminho para seguir e encontrar o personagem. A gente tinha a recomendação de não fazer uma voz, mas de usar a nossa própria voz, até porque trouxeram esses nomes famosos porque nossas vozes são conhecidas. Mas eu não consegui. No que falavam 'bota energia', eu pensava em aspereza, agressividade. Saía uma voz específica. Quando me chamaram para voltar em 'Divertida Mente 2', eu pensei: 'como que eu vou encontrar aquela voz de novo?', uma que eu tinha usado por um dia há uns nove anos atrás. Aí, cheguei no estúdio. Na hora que começou a passar o trailer e vi o Raiva na tela, a minha voz saiu exatamente como tinha saído no primeiro filme" avisa Leo Jaime.
"Eu também não lembrava, não sabia se ia chegar no mesmo tom de nove anos atrás, porque nossa voz vai mudando com o tempo. Aí, me chamaram para voltar para 'Divertida Mente 2' e, da mesma forma que o Leo falou, quando apareceu a Tristeza na tela, a voz dela veio. Foi como se ela nunca tivesse ido embora", concorda Katiuscia.
Dublagem importa
Por fim, o elenco faz questão de valorizar o trabalho dos dubladores. "Eu queria deixar aqui que os dubladores são meus grandes ídolos. O maior ídolo do meu filho é o João Victor Granja (que dubla o Dustin de 'Stranger Things'), um dublador excepcional. Eu sou louca por dublagem, mas eles acabam não tendo muito crédito. Muitas vezes você assiste um desenho e não exibem os créditos de quem está atuando ali", lamebta Katiuscia.
"A gente tem que aplaudir muito os dubladores, porque a dublagem é uma arte muito difícil. Para a gente, que ainda é novato, é mais difícil ainda, mas é muito gostoso, e achei maravilhoso", destaca Leo Jaime.