Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Operação França

'Un P'tit Truc En Plus' já vendeu sete milhões de ingressos e segue lotando salas de exibição | Foto: Divulgação

Apesar da onda de boa sorte trazida por "Divertida Mente 2", que faturou US$ 294 milhões só num fim de semana, as bilheterias mundiais de 2024 andam em baixa, tendo "Duna: Parte II" como o campeão do ano até agora, com um faturamento de US$ 711 milhões. No Brasil, a liderança segue com "Minha Irmã e Eu", prestigiado por cerca de 2 milhões de pagantes de janeiro a março. Mas há territórios em que a mobilização do circuito foi mais alta do que se esperava, rendendo até fenômenos, como é o caso da França, pátria onde o cinema nasceu, em 1895.

Por lá, três filmes passaram a marca de um milhão de ingressos vendidos e o líder de arrecadação, a comédia "Un P'tit Truc En Plus", superou todas as expectativas e contabiliza, de maio até agora, uma venda de sete milhões de entradas.

Dirigido e estrelado por Artus, o filme não dá qualquer bola para as patrulhas da correção política e retrata o golpe dado por dois ladrões em fuga que se infiltram num acampamento para PCDs. Lá, os dois fingem ser o que não são. Esse fingimento agradou em cheio o gosto das plateias de Paris, Nice, Marselha e arredores, onde funcionam 2.054 complexos exibidores, com 6.320 telas.

Parte desse sucesso se deve ao empenho da Unifrance, instituição ligada ao Ministério da Cultura da pátria (hoje) presidida por Emmanuel Macron, cujo foco é apoiar a circulação dos filmes (e das séries, vide "Lupin") feitas por lá. Para o segundo semestre, a instituição terá títulos de peso para badalar, como a nova versão de "Emmanuelle" (1974), dirigida pela premiada Audrey Diwaan, que vai abrir o Festival de San Sebastián, na Espanha, em setembro. É uma das produções mais esperadas para os próximos meses.

Há muito que se comemorar na Unifrance, uma vez que a receita dos longas lançados pela França de janeiro a dezembro de 2023 superou a ressaca provocada pela pandemia, que secou as salas de exibição, esvaziando-as sob o assombro da covid-19. Acostumados a ver filmes venderem 10 milhões de ingressos ou até mais - "Intocáveis", que revelou Omar Sy, foi visto em circuito por 19,5 milhões de espectadores -, as salas de projeção parisienses (assim como as de Toulouse, Biarritz, Antibes e demais cidades daquela pátria) amargaram dias difíceis com efeito do coronavírus, sofrendo retração de plateias e encarando uma pesada concorrência com as plataformas de streaming. O maior sucesso que aquele mercado emplacou em 2022 foi "Qu'Est-ce Qu'On a Tous Fait Au Bon Dieu?", que vendeu 2.429.450 tíquetes. É a terceira parte da franquia de humor "Que Mal Eu Fiz A Deus", iniciada em 2014. É um número expressivo pra vida pós pandemia, mas comparado à receita dos outros dois longas da cinessérie - o primeiro foi visto por 12,3 mil pagantes e o segundo, de 2019, por 6,6 mil pessoas.

Já no ano passado, quando 406 filmes franceses foram lançados e 298 foram produzidos, as cifras foram bem mais alta, a começar pelo fato de "Astérix & Obélix: O Reino do Meio" (lançado aqui via Netflix) ter vendido 4,5 milhões de tíquetes de fevereiro a maio. Nas aventuras animadas produzidas em estúdios da França, 2023 também foi de gáudio, com cerca de 1,6 milhão de espectadores no currículo do thriller infantojuvenil "Miraculous: As Aventuras de Ladybug: O Filme". Também impressionou a receita de "Nina: A Heroína dos Sete Mares", lançado aqui em novembro: 863 mil pagantes.

Vale citar a força que teve "Jeanne DuBarry", melodrama de época que marcou o regresso de Johnny Depp às telas (após a árdua batalha judicial contra sua ex- a atriz Amber Heard), sob a direção de Maïwenn. Vendeu 764 mil bilhetes em territórios francófonos logo depois de ter sido exibido na abertura do Festival de Cannes.

Nos festivais classe AA do mundo, a França deitou e rolou também. Já em fevereiro passado, ela papou o Urso de Ouro da Berlinale com "No Adamant", de Nicolas Philibert, visto por 125 mil franceses. Em maio, ganhou a Palma de Ouro de Cannes com "Anatomia de uma Queda", que rendeu o Oscar de Melhor Roteiro Original e Globo de Ouro de Melhor Filme de Língua Não Inglesa para a diretora Justine Triet. Sua bilheteria, entre meados do ano passado e os três primeiros meses deste ano, somou 4,8 milhões de entradas vendidas e uma receita de US$ 35 milhões.