Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Roberval Duarte: 'Curtas são ferramentas valiosas'

| Foto: Divulgação

Painéis distintos da realidade brasileira compõem Cinema Pelo Caminho, sessão que o Estação NET Botafogo realiza nesta quarta-feira, dia 26, a partir das 19h, reunindo a produção cinematográfica de Roberval Duarte, um diretor que encara a cidade do Rio de Janeiro com encanto, mas com questionamentos. Diferentes fases de sua obra, demarcada por curtas-metragens, serão projetadas, compondo um painel de sentimentos distintos, sobretudo a inquietação com os modos de viver. Na entrevista a seguir, o cineasta, formado pela UFF e mestrado em Mídias Criativas pela UFRJ, explica as singularidades de seu olhar.

Quantos e quais filmes serão exibidos nessa retrospectiva de sua carreira como diretor?

Roberval Duarte: A sessão Cinema Pelo Caminho reúne minha produção audiovisual, dez anos depois da estreia de "Dia dos Pais" (2014) no Festival de Havana. É um filme sobre luto, que ganhou novo significado depois da pandemia, em função da tragédia, humanitária e política, que aconteceu no Brasil. Será sua primeira exibição em cinema no país. Também serão exibidos meus filmes anteriores, desde o primeiro: "Rota de Colisão" (1999), que esteve em quase 70 festivais e mostras pelo mundo, com várias premiações e representando o Brasil no Festival de Cannes. Estão ainda no programa: "Asfixia" (2004) e "Santas" (2012), premiados no Festival de Belém (Sound Design) e Cine Ceará (Direção), respectivamente.

Qual e como é o Brasil representado no teus curtas?

Meus filmes representam um Brasil que teima em resistir a uma condição imposta, ao longo de sua História, por uma elite medíocre, sem amor pelo país e que sequer faz luto em momentos de tragédia, como na pandemia de Covid-19. Falam da infância e juventude negra das periferias que cresce em busca de caminhos, nestes tempos de precarização do trabalho e crescente exclusão. Falam da retórica da violência, midiática, que elege oportunistas e aprisiona as pessoas em discursos de ódio. Mas falam também da maior parcela do povo brasileiro, que luta com bravura para superar esse estado de coisas e avança, sempre. Falam sobretudo com as mulheres, a alma feminina, na vanguarda por uma sociedade mais justa e humana.

Que fases da sua obra a sua sessão revisita e que caminhos essa obra tomou?

São duas fases distintas. A primeira, em 35mm, na sequência do curso de Cinema da UFF e atuante como programador de filmes do CCBB RJ. Busca inspiração em movimentos (como o Cinema Novo e o neorrealismo, em "Rota de Colisão") ou autores (como Woody Allen e Polanski, em "Asfixia") que fizeram a minha cabeça. A segunda, digital, é muito mais intimista e pessoal, ainda de olho no cinema de autor (Wim Wenders, Ozu, Kiarostami e o meu querido amigo Eduardo Nunes). Atualmente, sigo trabalhando no projeto "Crônicas da Cidade que Eu Amo", homenagem declarada a Carlos Hugo Christensen, roteiro que foi finalista do Sundance/ NHK International Filmmakers Award.

Como você avalia o papel social e estético do curta-metragem como veio de expressão?

Mesmo com o sucesso em festivais e premiações de meus curtas, nunca consegui apoio no Brasil para realizar meu primeiro longa, mesmo com um roteiro recomendado pelo Sundance Institute. Mas sigo adiante, com energia, agora inspirado pela obra do Christensen, um cineasta argentino apaixonado pelo Rio de Janeiro. De qualquer forma, eu me sinto realizado como curta-metragista, pois o formato é fundamental por permitir uma liberdade estética que mantém o cinema vivo como expressão artística. No campo social, por minha experiência como cineclubista, penso que os curtas são ideais para fomentar o debate necessário, com diferentes tipos de público, e são ferramentas valiosas para profissionais da Educação.