Por:

Zezé Motta, 80 anos de arte e inspiração

Zezé Motta: 'Quando as coisas deram certo pra mim, vi que éramos poucos negros em cena. Comecei a cobrar dos produtores e da mídia sobre essa invisibilidade do negro' | Foto: Divulgação

Uma artista que sempre se manteve à frente de seu tempo, Zezé Motta completa 80 anos nesta quinta-feira. Ao longo de sua carreira, que já dura mais de 60 anos, ela se destacou em diversos trabalhos na televisão, no cinema, no teatro e na música. O mais marcante deles foi "Xica da Silva", longa de Cacá Diegues.

Além de seu talento em diversas áreas, Zezé escreveu páginas importantes na história da arte brasileira graças a seu firme posicionamento na luta contra o racismo no Brasil, utilizando sua influência para combater a discriminação e promover a igualdade racial.

Nascida no Rio de Janeiro em 27 de junho de 1944, Zezé começou sua carreira no teatro ainda adolescente. Na década de 1960, ela se tornou um dos principais nomes do Teatro Oficina, de José Celso Martinez Corrêa (1937-2023), um dos grupos teatrais mais importantes das artes cênicas brasileiras. Além de atriz, Zezé também é cantora e compositora. Ela já lançou diversos discos e é conhecida por sua voz marcante.

Na televisão, Zezé Motta se consagrou como uma das atrizes mais populares do país. Ela participou de diversas novelas de sucesso, como "Beto Rockfeller" (1968), "Gabriela" (1975), "Chiquinha Gonzaga" (1999) e "Lado a Lado" (2012).

Continua na página seguinte

 

Maratona cinéfila com Zezé no Canal Brasil

Com 'Xica da Silva', de Cacá Diegues, Zezé conquistou prêmios no Brasil e exterior. Tornou-se a sua personagem mais marcante | Foto: Divulgação

Para celebrar os 80 anos de Zezé Motta, diversas homenagens estão sendo realizadas em todo o Brasil. Entre elas, está a mostra "80 Anos de Zezé Motta", que está em cartaz na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, até o dia 9 de julho. A mostra reúne seis filmes da atriz, além de debates e workshops.

E o Canal Brasil preparou uma maratona para comemorar a data. A programação começa na virada do seu aniversário, a partir de meia-noite, com a apresentação do Cinejornal especial e segue por quase 24 horas com a exibição em sequência de 13 filmes emblemáticos que marcaram a trajetória de Zezé no cinema desde a década de 1970.

Uma entrevista inédita com a atriz abre a maratona à 0h, em um Cinejornal comemorativo apresentado por Simone Zuccolotto. Na conversa, Zezé destaca a importância de ser uma mulher negra que, ao longo da vida, conquistou grande destaque no cinema e na televisão. "Quando as coisas deram certo pra mim, vi que éramos poucos negros em cena. Comecei a cobrar dos produtores e da mídia sobre essa invisibilidade do negro. Foi aí que criei um arquivo de atores negros, o Cidan. Apesar de o país ser tão miscigenado, é um país racista, vou ter que brigar por isso", conta Zezé, que em 1984 fundou o Centro de Informação e Documentação do Artista Negro (Cidan), um espaço que facilitou e potencializou a entrada de artistas negros no audiovisual.

No começo dos anos 1980, Zezé Motta já era um nome de respeito na dramaturgia brasileira. Entretanto, este fato não a livrou do racismo que sofreu pelo fato de fazer par romântico com Marcos Paulo, um ator branco até então visto como um galã e com quem se casaria na vida real.

Zezé também fala sobre suas próximas estreias, papéis marcantes de sua carreira e a chegada aos 80 anos. "Eu fico muito feliz de inspirar as pessoas e de ter conseguido passar, principalmente para as mulheres negras, o poder de olhar e falar: eu também posso!".

Entre os destaques da Maratona Zezé Motta, está o clássico "Xica da Silva", dirigido por Cacá Diegues. O filme é baseado no romance "Memórias do Distrito de Diamantina", do autor João Felício dos Santos. A atriz interpreta a escrava Xica da Silva, que torna-se a primeira dama negra brasileira. O papel rendeu à ela troféus de Melhor Atriz no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, no Prêmio Coruja de Ouro de Cinema e no Prêmio Air France de Cinema em 1976, e no Prêmio Governador do Estado de São Paulo em 1977.

Ainda completam a programação os longas-metragens "A Serpente", do diretor Alberto Magno; "Para Viver Um Grande Amor", de Miguel Faria Jr.; "Jubiabá", de Nelson Pereira dos Santos; "Natal da Portela", de Paulo César Saraceni; "Vai Trabalhar Vagabundo", de Hugo Carvana; "Orfeu" e "Tieta do Agreste", de Carlos Diegues; "Bróder", de Jeferson De; "Nó do Diabo", de Gabriel Martins, Ramon Porto Mota, Ian Abé e Jhésus Tribuzi; "Alemão 2", de José Eduardo Belmonte; e "Gonzaga - De Pai Pra Filho", de Breno Silveira.