Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA CINEMA - A IMENSIDÃO: Dinâmica da cumplicidade

'A Imensidão': ciranda de relações alquebradas pelo desamor conjugal | Foto: Divulgação

 

Emanuele Crialese é um cineasta de extremo esmero plástico em suas narrativas, embora não tenha uma marca autoral própria. Seus filmes são extremamente distintos entre si formal e tematicamente, investigando situações afetivas ou mesmo geopolíticas diversas, como se vê em "Novo Mundo" (2006) ou "Terra Firme" (2011). O que mais se assemelha a um traço identitário em suas escolhas narrativas é a busca por temas polêmicos ou assuntos que ainda não encontraram calmaria dos debates sociais. "A Imensidão" ("L'Immensità"), um belíssimo painel de época, com foco nos anos 1970, vai nessa linha ao falar de disforia de gênero.

Apoiado num desempenho radiante de Penélope Cruz no papel de Clara, uma espanhola que se radicou em Roma, o filme estrutura uma ciranda de relações alquebradas pelo desamor conjugal (de um lado) e pela cumplicidade maternal-filial plena (do outro). A trama é escrita pelo diretor em parceria com Francesca Manieri e Vittorio Moroni. Sua principal aliada é a fotografia de Gergely Pohárnok, que opta por tons de cor suavizados (e elegantes) a fim de retratar toda o lirismo do amor materno.

No enredo, Clara (Penélope) vive uma rotina oprimida pela falta de diálogo com o marido, Felice (Vicenzo Amato), um homem de negócios abusivo que já não se interessa por ela. Numa briga, ela chega a dizer que nem sente mais ciúmes dos casos amorosos que ele tem levado com outras mulheres. O que prende os dois são três filhos: Diana (Maria Chiara Goretti), Gino (Patrizio Francioni) e Adriana (Luana Giuliani), a mais velha e a mais rejeitada pelo pai. O motivo: ela não se identifica como menina e, sim, como menino, chegando a usar o nome Andrea para se apresentar às pessoas.

Clara a protege como pode, mas tem seus demônios internos para reter. De certa forma, Adriana também tenta proteger a mãe. É a partir da dinâmica de amizade entre elas que o filme - indicado ao Leão de Ouro do Festival de Veneza - se desenha de forma dionisíaca na tela. Uma das atrações da mostra 8 ½ Festa do Cinema Italiano, o longa-metragem de Crialese tem sessão no Cinsystem Botafogo na segunda, às 16h40 e na quarta, às 14h