Condecoração para Amore
Estonteante thriller policial romano se candidata a cult na mostra 8 ½ Festa Do Cinema Italiano à força do carisma de Piefrancesco Favino
Quando quer resgatar a exuberância de que desfrutava entre 1945 e 1985, do neorrealismo ao êxito mundial de Bud Spencer & Terence Hill, o cinema italiano não deixa brecha para rival algum superá-lo, como se vê na seleção da mostra 8 ½ hoje em cartaz no Rio. No pacotão de atrações do evento se destaca até um filme de ação feito em Roma: "L'Ultima Notte Di Amore", thriller policial à moda dos anos 1970, protagonizado por Pierfrancesco Favino, dirigido por Andrea di Stefano. Tem sessão dele nesta sexta, às 18h40; no sábado, às 16h20; e na quarta, às 21h50. É uma trama sobre um policial em fins de carreira que aceita trabalhar para uma organização de chineses e se mete numa enrascada, envolvendo pedras preciosas, na qual seu melhor amigo é morto.
"Gosto muito de ver atores maduros, mais velhos do que eu, atuando, pois gosto de ver como eles lidam com a questão da aceitação do tempo, das escolhas, das renúncias, e ver como todo um percurso de vida passa a se materializar diante deles", disse Pierfrancesco ao Correio da Manhã, na Berlinale, em fevereiro, onde arrebatou aplausos à frente do policial "L'Ultima Notte D'Amore", outro de seus sucessos deste ano. "Gosto de levar a plateia a refletir".
Cenas de perseguição tensas aumentam a temperatura e a pressão de "A Última Noite de Amore", enquanto tiram uma radiografia da noite romana.
"Sempre que vislumbro a maneira como o cinema italiano evoluiu, tenho a percepção de que cada um de nossos clássicos e de nossos cults são um protótipo de um veio estético distinto, incluindo o cenário mais popular dos filmes de gênero, como o policial", disse Di Stefano ao Correio. "O que tentamos fazer com Favino é um elogio à tradição, mas buscando encontrar novos veios de conexão com as plateias de hoje, a partir das linguagens do presente".
Desde setembro passado, Favino vem correndo mundo com o épico bélico "Comandante". Exibido na abertura do Festival de Veneza, esse longa de Edoardo de Angelis (do premiado "Indivisibili") recria a II Guerra Mundial sob os códigos de um filão de gênero que é um imã de sucesso, vide "Maré Vermelha" (1995) e "A Caçada ao Outubro Vermelho" (1990): os filmes de submarino. Cabe a Favino dar vida ao oficial militar Salvatore Todaro (1908-1942), famoso por seu humanismo no mar.
"O papel do artista é buscar a manifestação do Belo", disse Favino em Cannes, onde integrou o time de jurados da Palma de Ouro deste ano.
Visto ao lado de Tom Hanks (em "Anjos e Demônios") e de Brad Pitt (em "Guerra Mundial Z"), Favino filmou no Rio em 2018. Veio aqui rodar "O Traidor", de Marco Bellocchio, que brigou pela Palma de Ouro, há quatro anos, tendo Maria Fernanda Cândido no elenco, numa trama sobre o mafioso Tommaso Buscetta (1928-2000). É possível ver esse filmaço hoje na Amazon Prime. "Maria Fernanda é uma atriz talhada para ganhar o mundo, sempre generosa em cena. Estivemos juntos num filme que passa um pedaço da História do meu país em revista e há muito que a gente não sabe. É importante estar em filmes que revisitam de onde viemos", disse Favino, num papo em Botafogo, no set de Bellocchio.
Dois anos depois, em 2020, em meio à pandemia, ele foi laureado em Veneza, por um júri presidido pela atriz australiana Cate Blanchett, com o troféu Copa Volpi de Melhor Ator por sua atuação em "Padrenostro" (aqui chamado "Irmãos à Italiana"). Estima-se que possa ganhar novos prêmios por "Comandante" também, que hoje faz carreira em circuitos europeus. A trama filmada por Edoardo de Angelis se passa em 1940, quando Salvatore Todaro comandava o submarino Cappellini, da Marinha Real Italiana. Numa noite, enquanto atravessava as águas do Atlântico, ele se depara com um navio mercante belga armado navegando de luzes apagadas. Todaro ataca a embarcação, que acaba afundando. Nesse momento, o comandante toma uma decisão que estava destinada a entrar para a História: salvar os 26 tripulantes do navio. Para abrir espaço a esses homens, ele é obrigado a navegar na superfície durante três dias, tornando-se visível às forças inimigas. O roteiro, cheio de tensão, é uma ode à resiliência e à solidariedade.
"Gosto de histórias nas quais os personagens encaram o medo de perder", diz Favino, na ativa desde 1993. "Quando se é ator profissional, você opera o tempo todo com máscaras de representação, mudando signos de si mesmo".
Nesta sexta, a 8 ½ Festa Do Cinema Italiano exibe ainda "Enea", de Pietro Castellitto, às 14h; e "Maria Montessori - Ensinando Com Amor", às 16h20. Entre todos os títulos escalados, aquele que carrega a mais aclamada grife autoral do evento é "O Sequestro do Papa", do já citado Marco Bellocchio, com sessão hoje, às 21h15; no domingo, às 14h; e na segunda, às 18h40.