Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Juliette Binoche por novas estradas

Juliette Binoche vive uma caminhoneira ás voltas com transporte de cargas ilegais em 'Crime na Estrada Paraíso' | Foto: Divulgação

Com um visual nada usual, Juliette Binoche atraiu a atenção dos assinantes brasileiros da Amazon Prime para um de seus filmes mais potentes da última década que passou longe do circuito nacional: "Crime Na Rodovia Paraíso" ("Paradise Highway", 2022), de Anna Gutto. É um achado de seleções passadas do Festival de Locarno. Juliette transcende mesmo as mais estilizadas personagens de sua carreira, ao encarnar uma caminhoneira calejada pela dor. A estrela deixa seu francês parisiense de berço de lado, e atua em Inglês, vivendo Sally, motorista que aceita conduzir cargas ilegais para ajudar seu irmão, o presidiário Dennis (Frank Grillo, em impecável atuação). Uma dessas cargas é uma menina, Leila (Hala Finley), que será negociada num esquema de tráfico sexual. Morgan Freeman integra o elenco, vivendo um consultor do FBI. Binoche foi bem dublada por Marli Bortoletto no longa. O êxito da produção nos streamings nacionais coincide com um novo e inusitado movimento na carreira da estrela francesa. Ela acaba de ser escalada para presidir a Academia Europeia de Cinema, uma entidade de preservação estética e política da produção do Velho Mundo>

A escalação coincide com a finalização de sua nova dobradinha nas telas com Ralph Fiennes, seu parceiro de "O Paciente Inglês", pelo qual ele ganhou o Oscar de Melhor Coadjuvante, em 1997. Os dois estrelam "The Return", que se baseia em Homero.

Por aqui, ela foi vista faz pouco em "La Passion de Dodin Bouffant", que rendeu ao cineasta vietnamita Tran Anh Hung a láurea de Melhor Direção, vai devolver seu rosto e seu talento ao circuito nacional no dia 11 de abril. O filme chega aqui com o título de "O Sabor da Vida" e tem como base um romance de Marcel Rouff sobre gastronomia, feminismo e parceria afetiva. O ex-namorado da diva, Benoît Magimel interpreta o Dodin Bouffant do título, chef que promove banquetes saborosos.

Em cartaz na Apple TV com "The New Look", Juliette terá muito trabalho em seus afazeres na Academia. O papel honorário do cargo que ela passa a ocupar tem um forte poder simbólico e personifica o projeto europeu de alimentar uma postura industrial autoral autossustentável. Ingmar Bergman foi o primeiro presidente da instituição, tendo sido escolhido pelos 40 membros fundadores da Academia em 1989. Wim Wenders sucedeu-lhe em 1996 e exerceu o cargo até 2020, tendo sido seguido por Holland, a primeira mulher presidente da Academia.

"Fico comovida quando as pessoas se contagiam com meu modo de trabalhar, sobretudo depois do que a gente viveu na pandemia", disse Juliette ao Correio da Manhã em San Sebastián, na Espanha, onde o iniciou um projeto sobre etarismo chamado "Queen at Sea". "Acho que uma das coisas que mais me doeram na fase do coronavírus na Europa foi não poder estar livre para andar até o mar, caminhar numa praia. Isso é uma restrição que te cerceia da natureza. Foi da ecologia que eu mais me aproximei no período da covid-19 e aprendi a cuidar melhor deste planeta".

Seu próximo projeto será "Camino Real", no qual vai atuar sob a direção de Ethan Hawke, seu parceiro em "A Verdade", de Hirokazu Koreeda, que abriu o Festival de Veneza de 2019.

"Na vida a gente tem que aprender com os próprios erros, encontrar nosso próprio caminho e buscar onde temos serenidade", diz Juliette. "O cinema conseguiu me mostrar isso tudo", diz Juliette. "Eu sigo filmando para descobrir o que não sei, para ser surpreendida".