Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA FILME - MAXXXINE: Uma grife cinéfila de assombrar

Maxine Minx (ao centro, de olhos pintados), personagem que atesta a força de Mia Goth, encara o lado B de Hollywood | Foto: Divulgação

Desde "Ataque dos Morcegos" (2005), o americano de Delaware Ti West vem construindo uma obra singular, cinéfila, parafraseando e homenageando movimentos e filões (quase sempre de linha B) que marcaram época nas telas. É o caso do western spaghetti, objeto dele em "No Vale da Violência", hoje na Netflix. Mas é pelas vias do horror, sobretudo na conexão com o slasher do fim dos anos 1970 e de toda a década de 1980, que ele mais ganhou notoriedade, e melhor talhou sua musculatura narrativa.

"O Último Sacramento" (2013) é um dos melhores exemplares de sua lavra autoral. Em seu percurso de diretor autor, ele confeccionou até uma trilogia, com direito a uma diva (Mia Goth, neta da brasileira Maria Gladys), cuja terceira parte chega às telas na semana que vem, embora já possa ser conferida em pré-estreias pagas hoje: "MaXXXine". Os anteriores são "X: A Marca da Morte" e (o magnífico) "Pearl", ambos de 2022.

A saga começa em 1979, com uma equipe de artistas da indústria pornô que, na busca de fazer um filme numa cidadezinha do interior, deparam-se com o perigo, embora uma de suas estrelas, Maxine Minx (Mia, num colossal desempenho), escape. Só a sequência dela acossada por um crocodilo já basta para tornar essa película um marco do medo. O segundo episódio dessa cinessérie mergulhava no passado daquele mundinho, ali por 1918, a partir dos feitos sanguinários da jovem Pearl. Já o terceiro longa-metragem, mais reflexivo, pontuado por um ritmo de edição envolvente, passa-se em 1985 e traz Minx de volta.

Ela está a um passo de mudar de ares e ir para Hollywood, estrelar um thriller de terror de uma diretora nada amistosa (Elizabeth Debicki). Nesse momento, uma onda de assassinatos ameaça as mulheres da cidade. Uma série de atrizes que Minx conhece são mortas, o que faz dela objeto de um inquérito policial... e um alvo. Ao mesmo tempo, um suposto detetive particular bem escroque, John Labat (Kevin Bacon, numa atuação impecável), passa a segui-la a fim de leva-la para seu patrão, que tem nela interesses nada pudicos.

A partir desse enredo, bem amparado pelo carisma e pela inteligência cênica de Mia, West faz um tributo ao suspense dos anos 1980, sobretudo à obra do deus Brian De Palma e seu "Dublê de Corpo" (1984), que aproximou as engrenagens hollywoodianas da indústria da pornografia. Mas "MaXXXine" vai muito além da homenagem e se firma como um estudo sobre a danação dos que almejam a fama, ao mesmo tempo que se estrutura como um ataque ao sexismo. Vale um aplauso a participação de Giancarlo Esposito como o advogado/ agente de Minx.