Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Don Lee, o Stallone da Coreia do Sul

O boxeador e ator Don Lee se tornou o Dirty Harry sul-coreano à frente da franquia milionária 'Força Bruta' | Foto: Divulgação

O inesperado êxito comercial de "Beekpeer" em janeiro prova que o cinema de ação ainda pode ser a maior diversão, com destaque para atrações que furam a bolha de Hollywood e chegam de outras latitudes, como é o caso do thriller "The Roundup: Punishment". Os US$ 83 milhões que arrecadou em sua terra natal, a Coreia do Sul, é apenas parte do faturamento do longa-metragem, que acaba de estrear nos EUA.

Sua primeira projeção mundial aconteceu no encerramento do Festival de Berlim, em fevereiro. Seu protagonista é o pugilista e dono de ginásio de boxe Ma Dong-seok, hoje mais conhecido pela alcunha de Don Lee. Quem não o conhece pode conferir seu molejo dramático e sua destreza pra briga na "Tela Quente" da TV Globo desta segunda.

A atração de hoje é "Força Bruta", título em português da franquia "The Roundup", iniciada em 2017, no qual Don assume o papel do detetive brucutu Ma Seok-do. Suas tramas são baseadas em episódios reais das páginas policiais asiáticas. Os três longas da saga lançados até agora já arrecadaram US$ 236 milhões em circuito mundial.

"Sou fã de Sylvester Stallone, tenho Rocky Balboa entre meus personagens favoritos e sinto muito orgulho quando alguém associa o que eu faço ao cinema praticado por ele", disse Don Lee ao Correio da Manhã na Berlinale.

Aos 53 anos, ele atraiu as atenções da crítica com "Invasão Zumbi", em 2016, mas foi na trilha da pancadaria que virou um dos mais bem-sucedidos campeões de bilheteira da Ásia. Na epele de Ma Seok-do o ator virou uma espécie de Dirty Harry da Coreia do Sul.

"Os dois títulos mais recentes da nossa franquia foram vistos por cerca de 10 milhões de pagantes, cada um, na Coreia, mas fizemos o título mais recente ainda sob impacto da covid-19, num esforço de elevar a frequência do público. Eu respeito todas as formas de produção audiovisual e sei que o K-Pop e as séries para streaming são fundamentais para tornar nossa indústria conhecida, mas o que eu quero é poder levar entretenimento para a sala de cinema. Meu empenho é divertir espectadores e encher salas".

Embora o Festival de Berlim tenha exibido ensaios em tons pop sobre a violência em anos recentes - caso de "Logan", em 2017, e de "Tempo de Caça", em 2020 -, é curioso ver o mais politizado dos eventos cinematográficos do Velho Mundo flertar com o cinemão de gênero pela mais patrulhada das vias: os thrillers de pancadaria. Em seu novo filme, dirigido por Heo Myeong Haeng (um dublê e cineasta estreante), Ma Seok-do (Lee) bate pesado numa quadrilha de jogo ilegal online. Na trama, um sistema eletrônico ilícito alimenta uma jornada do detetive mais brutal da Coreia ao submundo. Curiosidade: ele nem usa pistolas, só apela para os punhos.

"Lutei boxe por muito tempo e me empenhei em valorizar minha condição física", disse Lee, que trabalhou sob a grife da Marvel Studios em "Eternos" (2021), de Chloé Zhao, no qual vive o herói Gilgamesh.

Nos EUA, Seok-do já atrai seu fã-clube, amparado em sua vertiginosa engenharia de edição e de cinematografia. Os títulos anteriores dessa cinessérie desafiam as leis da gravidade, num padrão "John Wick" de excelência. "Admiro muito o que o diretor Chad Sthaelski foi capaz de fazer na realização de 'John Wick'. O que eu almejo no registro da ação é alcançar o máximo de realismo e oferecer ao público tramas que dialogam com fatos reais das crônicas policiais da Coreia", disse Lee, que brilhou na telona de Cannes à frente do suspense "The Gangster, The Cop, The Devil" em 2019. "Tenho interesse em diversificar meu currículo. Espero um dia trabalhar em outros gêneros".