Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Alvo: Donald Trump

Sebastian Stan encarna o empresário e ex-presidente Donald Trump em 'The Apprentice' | Foto: Divulgação

 

Após o atentado a tiros contra Donald Trump, na Pensilvânia, no último sábado, um filme que se dedica a revelar segredos do passado do empresário e ex-presidente ganha holofotes e vê seu papel se ampliar nas especulações acerca do Oscar 2025. "The Apprentice" é o título do longa-metragem, que fez sua estreia mundial no Festival de Cannes, em maio, em disputa pela Palma de Ouro. Sua passagem pela Croisette foi cercada de elogios, com destaque para o desempenho do ator Sebastian Stan.

A produção é uma cinebiografia não autorizada do ex-líder estadunidense, que sonha retornar à Casa Branca. Quem tem dúvidas sobre os ditames morais do empresário e outrora estadista tenderá a não apoiá-lo depois de assistir ao retrato de sua juventude que o diretor escandinavo de origem iraniana Ali Abbasi (de "Holy Spider") produziu, tendo Stan no papel central.

"Não é um filme sobre Trump, mas sim um filme sobre o sistema, sobre como o sistema funciona e como o poder se articula com ele. A ideia de que os Estados Unidos estão divididos é uma ficção, pois as pessoas que parecem estar em lados opostos frequentam as mesmas festas. Acho que (o escritor) Kurt Vonnegut definiu bem a situação ao dizer: 'Na América ó existem dois partidos: os vencedores e os derrotados'. Esse é o esquema", disse Abbasi, que chamou a atenção da crítica com o thriller "Border" (2018). "Não sei se Trump vai desgostar do nosso filme. Talvez ele se surpreenda".

Para um artista que acredita não ser otimista, Abbasi anda confiante demais na boa vontade de Trump, uma vez que "The Apprentice" devasta as supostas virtudes que seu personagem central poderia ter. O roteiro é centrado no processo de amadurecimento de Donald T entre os anos 1970 e a década de 1980 a partir da relação de aprendizado que ele estabelece com o poderoso advogado Roy Cohn, vivido por Jeremy Strong (da série "Succession"). Roy vira um mentor que ensina a seu pupilo as manhas sobre como vencer nos negócios no apogeu do capitalismo consumista. A Trump Tower é o primeiro dos acertos de seu "aluno" que, pouco a pouco, trai a confiança do mestre. Desrespeita ainda sua mulher, Ivana (Maria Bakalova), submetendo-a a uma violência sexual. Por isso (e mais um pouco), o comitê Trump quer processar o filme. Mas Abbasi não teme represálias.

"Nossa ideia é lançar o filme em setembro, em meio à campanha eleitoral. As eleições serão o nosso marketing", disse o cineasta, que arranca de Stan uma atuação magistral.

Conhecido na seara pop de Hollywood pelo papel do super-herói Soldado Invernal, da Marvel, ele ganhou o Urso de Prata de Berlim, em fevereiro, por "A Different Man". "Nossa esperança é que as pessoas vejam o filme", disse Stan ao Correio da Manhã.