Por: Paula Soprana (Folhapress)

Dira Paes: 'A novelização é estrutural. As pessoas querem ver filmes com diálogos, tudo contadinho'

Com uma narrativa de contemplação e busca do eu interior, Dira Paes estreia como diretora no longa 'Pasárgada', destaque na programação do Festival de Gramado, em que vive uma ornitóloga | Foto: Divulgação

Prestes a completar 40 anos de carreira, a atriz Dira Paes estreia como diretora em "Pasárgada", um filme contemplativo sobre pássaros, a floresta e o reencontro de uma mulher em desarmonia consigo mesma. A protagonista é Irene, uma ornitóloga vivida pela própria Paes. Exibido no Festival de Gramado, o longa é uma produção conjunta de Paes, Pablo Baião, seu marido, e a produtora Eliane Ferreira, sua prima. A trilha sonora fica entre o canto do passaredo e Fafá de Belém.

A obra foi rodada durante a pandemia, com a equipe reclusa na Mata Atlântica fluminense, precisamente no distrito do Arraial do Sana, em Macaé. Irene participa de um grupo internacional de tráfico de animais e precisa executar mais um trabalho: mapear pássaros, a partir de seus sons, e facilitar a transação dos animais para Dubai. É uma mulher sem vínculos - sofre com o distanciamento que criou com a filha, mas não tenta ou não consegue recuperar esse laço. Seu motivo existencial é o trabalho, até o momento em que vai para Macaé e inicia um processo interno de reencontro.

Quem facilita essa autodescoberta é a própria floresta e dois homens locais, os mateiros Manuel (Humberto Carrão) e Ciça (Ilson Gonçalves), que a ajudam na peregrinação em busca das aves exóticas mas desconhecem os reais motivos da investigação. Irene tem atração por Manuel, um personagem rural simples, que fala a "língua das aves", com assovios de todo tipo. Trata-se do primeiro personagem rural de Carrão, já que a filmagem antecede "Renascer", na qual ele interpreta José Inocêncio quando jovem. São personagens muito distintos, aliás.

"Eu queria que ele fosse um ativador das sensações dela, da tropicalidade dela, mas não queria que fosse romântico. Nem sempre é amor, às vezes é só remédio, só uma coisa que a gente precisa tomar", disse Paes em debate sobre o filme.

A obra é contemplativa e intimista, musicada por Fafá somente em algumas cenas em que Irene está sozinha. "A gente quis trazer a observação. Viver o tempo parado é uma coisa que a gente não consegue mais. Eu queria outro tipo de imersão", afirmou. "A novelização é estrutural hoje, as pessoas querem ver filmes com diálogos, tudo contadinho."

Como foi feito na pandemia, a direção explorou as videoconferências, em cenas que não foram editadas. Nelas, Irene conversa com seu chefe ou sua irmã, interpretada por Cássia Kis.

Ela afirma também que tem novos projetos na cabeça, mas que tem muitos roteiros interessantes para fazer como atriz. "Pasárgada", dedicado ao cineasta John Boorman, estreia em 26 de setembro no circuito comercial.