Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Isabelle Huppert presente...e presidente

Isabelle Huppert terá a tarefa de garimpar os melhores títulos na edição deste ano do prestigiado Festival de Veneza | Foto: Divulgação

Encarado como um cardápio (bem diversificado) de potenciais indicados ao Oscar, o Festival de Veneza inicia sua 81º edição nesta quarta-feira (28), com a projeção do esperado "Os Fantasmas Ainda se Divertem - Beetlejuice Beetlejuice", de Tim Burton, assumindo uma diva da Europa (e das telas de todo o mundo) como presidente de seu júri internacionalíssimo: Isabelle Huppert. Aos 71 anos, a atriz francesa - que volta às nossas telas no próximo dia 19, à frente de "Sidonie no Japão" - vai avaliar uma série de longas-metragens com fôlego para o sucesso. O brasileiro "Ainda Estou Aqui", dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres, Fernanda Montenegro e Selton Mello, é um dos concorrentes ao Leão de Ouro de 2024.

Medalhões do quilate de Pedro Almodóvar (no páreo com "The Room Next Door") e campeões de bilheteria como Todd Phillips (indicado por "Coringa - Delírio A Dois") são adversários da nova produção do realizador de "Central do Brasil" (1998). Ela será avaliada por Madame Huppert (alcunha pela qual é tratada na imprensa do Velho Mundo) ao lado de um time de juradas e jurados de prestígio, incluindo o diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho ("O Som Ao Redor e "Baucrau"). Ao lado de Kleber, sob os auspícios de Isabelle estarão a atriz chinesa Zhang Ziyi e uma turma de cineastas, que inclui o americano James Gray, o britânico Andrew Haigh, a alemã Julia von Heinz, a polonesa Agnieszka Holland, o mauritano Abderrahmane Sissako e o italiano Giuseppe Tornatore.

"Há uma longa e bela história entre o Festival e eu. Tornar-se uma espetadora privilegiada é uma honra", disse Huppert, no site oficial de Veneza. "Mais do que nunca, o cinema é uma promessa. A promessa de escapar, de perturbar, de surpreender, de olhar bem para o mundo, unidos nas diferenças dos nossos gostos e ideias".

Em 2009, ela presidiu o júri do Festival de Cannes, concedendo a Palma de Ouro a seu habitual colega de trabalho Michael Haneke, por "A Fita Branca". Integrar competições é uma tarefa com a qual está habituada, em sua agenda movimentada, sempre cheia de projetos, como é o caso de "La Femme La Plus Riche Du Monde", seu próximo filme a ser rodado.

"Sempre existem cineastas com uma perspectiva sobre o mundo que pode surpreender, o que me leva a estar sempre aberta a convites e a propostas de bons roteiros. É na leitura de um bom script que eu sou fisgada e tentada a dizer 'sim' a um convite", disse Isabelle, ao Correio da Manhã, em entrevista no Festival de Berlim (a Berlinale), em fevereiro, quando concorreu com "A Traveler's Needs". "Não penso na qualidade de atriz que sou, e, sim, na diferença que eu posso fazer no cinema como espectadora. Atuando, sou intuitiva. Mas eu sei ver filmes e sei observar boas ideias. O que me mantém no cinema é a troca com diretoras e diretores que me tirem do maniqueísmo. Simone de Beauvoir tem um texto que se chama 'Por Uma Moral Da Ambiguidade' no qual nos alerta para o limite entre hipóteses e verdades. É esse o tipo de revelação que a arte nos dá".

Por ter positivado em um teste de covid-19 dias antes de embarcar para a Berlinale de 2022, Isabelle não pôde comparecer à cerimônia de entrega do Urso de Ouro Honorário daquele ano, que receberia pelo conjunto de sua carreira. Teve a chance de buscar seu troféu de honra na edição mais recente do evento, em evento, da qual participou tanto na competição (com o já citado "A Traveler's Needs", que ganhou o Grande Prêmio do Júri alemão) quanto na seção Panorama, com o delicioso policial "Le Gens d'à Côté". No papo que teve com o Correio, ela falou com carinho da boa acolhida de seus longas no Brasil.

"Eu fiquei feliz ao saber que um dos meus mais recentes trabalhos, "A Dona do Barato', que eu protagonizo, foi o filme francês de maior sucesso no Brasil durante a pandemia. Sei que tenho convites pendentes, mas ainda não tive chance de dar um pulo no país de vocês. O cinema tem muitas vozes novas ativas, criando mundos próprios. Eu vivo em busca dessas vozes", disse Isabelle, que encantou a capital alemã sob a direção do realizador sul-coreano Hong Sangsoo.

Os dois fizeram juntos "A Visitante Francesa", em 2012, e "A Câmera de Claire", em 2017. A dupla retoma o convívio em "A Traveler's Needs", no qual Isabelle interpreta uma abilolada professora de Francês que engata em conversas e bebedeiras com artistas para quem leciona. Um jovem poeta e sua mãe bem intrujona integram a fauna de personagens de Sangsoo.

"Hong não trabalha com roteiro, nem com enredo definido. A gente vai criando no processo, em tramas bem-humoradas, mas carregadas de uma certa melancolia", diz a estrela.