Na inquietude de Godard
Plataformas como a MUBI e a FilmIn abrem espaço para clássicos e cults do diretor, enquanto seu filme póstumo busca espaço em circuito
Dois anos depois de sua morte, por suicídio assistido, o mito da semiologia Jean-Luc Godard (1930-2022) segue no radar do audiovisual. Festivais de narrativa documental do Velho Mundo e as salas de exibição ditas "arthouse" da França hoje se esforçam para encontrar um espaço para o curta "Scénarios", cujo roteiro foi deixado semifinalizado pelo cineasta, antes de sua partida. Exibido em Cannes, o filme é um tratado sobre a gênese e a decadência da sociedade ocidental, construído a partir de imagens de arquivo, documentos e referências à espirial do DNA.
Enquanto essa pequena, mas poética produção busca espaço em tela, streamings de todo o mundo abrem brecha para sua forma autoralíssma de narrar. Em terras ibéricas, a plataforma FilmIn hoje exibe "Tudo Vai Bem", rodado por ele em 1972, e o estonteante "Carmen de Godard" (Leão de Ouro de Veneza em 1983). No Brasil, essa tarefa de explorar a filmografia de JLG ficou a cargo da MUBI, que acaba de inaugurar em sua grade um menu especial chamado "Para Sempre Godard".
Essa seleção imperdível do www.mubi.com reúne o período áureo da formação godardiana numa homenagem à Nouvelle Vague, o movimento de renovação audiovisual do qual ele foi um pilar. Estão por lá uma série se clássicos como "Acossado" (1960), "Piierrot Le Fou - O Demônio das Onze Horas" (1965) e "Alphaville" (também de 65, quando ganhou o Urso de Ouro da Berlinale). Neles, Godard capta não apenas o dinamismo de locações ora metropolitanas, ora rurais, como também o espírito vivaz de uma nova geração que, naquele momento desafiaria o status quo na França. Esta coleção celebra o estilo eclético do realizador suíço (embora nascido em Paris), bem como capta a atitude combativa e radical dos anos 1960, que caracterizam seus longas iniciais. Continua na página seguinte