Personagens de vida vazia
Faroeste à brasileira, 'Oeste Outra Vez', Erico Rassi, vence festival de Gramado com o prêmio de melhor filme. 'Estômago 2' leva cinco Kikitos
"Oeste Outra Vez", do goiano Erico Rassi, ganhou o Kikito de melhor longa-metragem no Festival de Cinema de Gramado, encerrado no sábado (17). O faroeste rodado na Chapada dos Veadeiros estava entre os mais bem cotados entre os críticos no evento. Segundo longa de Rossi, a obra trata de um universo masculino rural marcado pela ausência de mulheres, que guia a vida vazia dos personagens.
O elenco tem Ângelo Antônio como protagonista e o compositor cearense Rodger Rogério como coadjuvante - ele recebeu prêmio por sua atuação. A obra ainda levou o Kikito de melhor fotografia, por André Carvalheira, ficando com três prêmios.
Melhor filme, "Oeste Outra Vez" foi filmado no sertão de Goiás, desde 2019, e conta a história de Toto (Ângelo Antônio), um homem abandonado pela mulher que foge na bela paisagem da Chapada dos Veadeiros na companhia de Jerominho (Rodger Rogério). Os dois selam uma amizade baseada no silêncio, interrompido por diálogos evasivos que se tornam cômicos.
A história de Toto se liga a de outros homens amargurados incapazes de dialogar sobre emoções, ponto muito explorado no filme. Os impasses são sempre resolvidos com tiro e cachaça.
Além de Toto e do parceiro Jerominho, sofrem do abandono Antonio (Daniel Porpino), acompanhado do parceiro Domingos (Adanildo Reis), Durval (Babu Santana) e Ermitão (Antonio Pitanga). A direção de arte e a fotografia exibem todos os tons do cerrado, a queimada, a terra e a sensação de vazio vivida pelas personagens.
Uma das referências do diretor foi o livro "Sagarana", de Guimarães Rosa. "Há uma tentativa de trazer esse universo de Guimarães Rosa de um jeito mais contemporâneo e seco", disse o diretor em debate durante a semana, após a exibição de seu filme.
A ausência de mulheres no elenco, com exceção da aparição de Luanni no início, intrigou a crítica durante o debate que ocorreu após a transmissão do filme. Houve discordância sobre tratar-se de um filme feminista ou não.
O ator Babu Santana afirmou que, atrás das câmeras, 70% da equipe é feminina. "Eu já fiz bastante produção e nunca tinha visto uma equipe tão feminina, e como as coisas davam certo."