Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Que a Força esteja com George Lucas

Rodeado de suas criações mais famosas, George Lucas pertence a uma geração que renovou o cinema | Foto: Disney Brasil

Quando passou pelo Festival de Cannes de 2012, para a exibição de "Esquadrão Red Tails" (do qual foi produtor), num telão nas areias da Croisette, George Walton Lucas Jr. anunciou sua aposentadoria do audiovisual e cumpriu com o anúncio. Embora seu nome ainda circule por diferentes mídias, associados a duas das mais amadas franquias da cultura pop - "Star Wars" e "Indiana Jones" -, o mítico cineasta chegou aos 80 anos sem interesse em encarar os meandros atuais de um mercado que ajudou a reconfigurar. Mercado esse que vem louvando seus feitos - mais do que gloriosos - com homenagens e sessões especiais.

Cannes encerrou as atividades de sua maratona cinéfila deste ano, em maio, concedendo a ele uma Palma de Ouro honorária, que lhe foi entregue por um titã e parceiro de trabalho a quem o diretor chama de "amigo" há cinco décadas, Francis Ford Coppola. No Brasil, a cinefilia local também reserva um mimo de peso para o artista responsável pela criação de Darth Vader: de 18 a 25 de setembro, o realizador será reverenciado pelo Grupo Estação com uma retrospectiva. Dois jovens talentos da reflexão crítica no país, Kaio Caiazzo e Guilherme Salomão, assinam a curadoria da mostra.

Já tem gente sonhando em (re)ver "American Graffiti" (1973), aqui batizado de "Loucuras de Verão", em tela grande, ao lado de um marco da sci-fi: "THX 1138" (1971). O sucesso de ambos cacifou Lucas como realizador autoral na revolução estética conhecida como Nova Hollywood (1967-1981), quando uma leva de jovens cineastas (Scorsese, Brian De Palma, Elaine May, o já citado Coppola, Spielberg...) transformaram o modo de se filmar nos Estados Unidos, engajando as narrativas fílmicas a debates sociológicos, modificando a forma de se narrar ao desafiarem convenções moralistas.

"Nos fim da década de 1960, as lideranças dos grandes estúdios estavam se aposentando. Suas empresas foram vendidas para grandes corporações de outros ramos, como a Coca-Cola, que não entendiam o ofício cinematográfico, encarando-o apenas como um negócio. Os novos executivos que chegaram resolveram contratar uma turma de jovens estudantes de Cinema para ocupar as brechas criativas. Eu era um deles", disse Lucas numa masterclass em Cannes, antes de ser laureado com a Palma de Honra (entregue ainda a Meryl Streep e as estúdios Ghibli). "A minha geração não fazia filmes para ganhar dinheiro, a gente filmava pelo desejo de fazer cinema. Nós amávamos filmes".

Desde 2005, quando lançou "Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith", Lucas nunca mais dirigiu um longa, atuando no máximo como produtor e consultor de roteiro, negociando a venda da marca "Guerra nas Estrelas" para a Disney. Mesmo longe dos sets, ele segue sendo uma grife, dada a popularidade dos títulos que ajudou a gestar, incluindo iguarias como "Howard, o Super-Herói" (1986), baseado num pato estelar egresso das HQs Marvel.

Esse é um dos títulos mais esperados do evento de Caiazzo e Salomão, assim como uma possível exibição das aventuras de Luke Skywalker.

Os tributos que cercam a celebração do 80° aniversário de Lucas se expandem ainda pelos quadrinhos, terreno onde seus heróis e vilões ganham uma série de publicações especiais, trazidas para o público brasileiro pela editora Panini Comics. Uma das atrações de maior vulto nas bancas e livrarias é o álbum "Darth Vader: Preto, Branco e Vermelho", com historietas em P&B e tons de rubro - cor do sabre de luz do temível guerreiro interplanetário. Em suas 136 páginas, numerosos talentos das artes gráficas se reúnem para contar os planos malévolos de Anakin Skywalker, alter ego de Vader.

Regados de ação e adrenalina num nível que sua recente trilogia cinematográfica - repaginada por J.J. Abrams - jamais teve, os quadrinhos da recém-lançada coleção "Legends - O Império" se firmam como o maior acerto da indústria brasileira de HQs em 2024. A Panini, que edita Marvel e DC em nossas bancas, marca um gol ao apresentar a travessia de Vader pelas galáxias, tornando-se um criminoso temido em todo o cosmos.

A saga da Panini tem periodicidade quinzenal e está no número 13 (no site da editora é possível comprar números posteriores). Sua dramaturgia é focada nos anos seguintes aos fatos narrados em "A Vingança dos Sith". É, de longe, o longa mais sofisticado da safra sobre Anakin Skywlker (o alter ego de Vader). Há quem diga que é o melhor trabalho de Lucas, à direção, desde "THX 1138".

A aventura quadrinística derivada dessa superprodução é ambientada após o fim das Guerras Clônicas, um período no qual as forças da República caíram e o imperador Palpatine passou a exercer seu controle sobre a galáxia. É uma mitologia que dialoga com o legado cinematográfico de Lucas. Legado que ganhou também espaço nobre no streaming, via Disney , com séries como "Andor", "Ahsoka" e "Obi-Wan Kenobi". Ou seja, a Força segue com Lucas.