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Dira Paes faz tudo e mais um pouco

Por Pedro Sobreiro

Após anos brilhando em frenta às câmeras, Dira Paes estreia nos cinemas um projeto bastante pessoal - e necessário - em que escreve, atual e dirige. Em 'Pasárgada', que estreou nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (26), Dira interpreta Irene, uma ornitóloga de passado obscuro, que vai atrás de um pássaro específico na Mata Atlântica. Por lá, ela vive experiências que vão reconectá-la com sua essência e mudar os rumos de sua vida.

Nascido de uma experiência pessoal da própria Dira Paes, que se isolou nas montanhas do Arraial do Sana, em Macaé, estado do Rio de Janeiro, durante a pandemia, 'Pasárgada' é uma experiência sensorial que marca a estreia de Dira como diretora. Em entrevista ao CORREIO DA MANHÃ, a multitalentosa Dira Paes contou um pouco mais sobre como foi gravar esse projeto tão ousado.

COMO FOI VER O FILME PRONTO NO CINEMA?

Dira Paes - 'Pasárgada' ganhou o prêmio de Melhor Desenho de Som no Festival de Gramado, e foi ali que me senti assistindo o filme pela primeira vez mesmo. Foi uma experiência sensorial, e com aquela plateia lotada, foi uma sensação de ver todo mundo na mesma vibração. E senti também que as pessoas entraram na mata junto com a personagem, com a Irene. Sinto que as pessoas passaram pelo processo de acompanhar o dia a dia dessa ornitóloga, e isso me deu muito prazer. Estou louca para ver de novo com o público, para sentir se o som está de acordo e se essa sensação persiste. Estou muito feliz com esse momento e com a receptividade que o filme vem tendo.

QUAIS SUAS REFERÊNCIAS NA DIREÇÃO?

Dira Paes - Olha, vou ser sincera. Acho que meu trabalho é o acúmulo desses anos todos. Mas como dedico o filme ao John Boorman e ao Walter Lima Jr., meus primeiros diretores - John Boorman meu diretor irlandês, do 'Emerald Forest', e o Walter Lima Jr. do 'Ele, o Boto', meu primeiro filme brasileiro -, em ambos os filmes a gente tem essa situação de mata. E acho que o cinema deles me inspira muito. Então, se eu tivesse que dar uma referência cinematográfica, seria eles. Mas acho que veio de tudo que vivi naquele momento em que escrevi o roteiro. De todas as lembranças, de todas as sensações daquele momento. Eu tive o tempo de observar os pássaros. Essa profissão veio de um tempo que eu nunca havia tido na minha vida, que foi o tempo pandêmico. Foi quando a gente saiu de casa e foi para a fazenda que veio essa certeza de que a gente queria realizar um projeto nosso. A gente viu que aquele era o momento de cruzar fronteiras, de ir além, de buscar nossos próprios desejos, propósitos... Reavaliar valores. Ninguém passou incólume por aquilo. Foi uma revolução pessoal e profissional ao mesmo tempo, que me provocou muito desejo. Porque tem que ter muito desejo para fazer um filme chegar até a plateia. E no nosso caso, que começamos uma carreira brasileira e ainda vamos começar uma carreira internacional, você puxa um fôlego para durar mais tempo. Você traz uma energia maternal para o projeto.

QUAL O MAIOR DESAFIO: ATUAR, ESCREVER OU DIRIGIR?

Dira Paes - Nunca me perguntei isso. Acho que dirigir. Porque a direção tem coisas que não dependem de você. Dirigir é uma responsabilidade geral. Naquele momento, eu me sentia muito responsável por vidas humanas, porque gravamos em dezembro de 2020. Estávamos ali, isolados naquela fazenda, para filmar. Mas ainda assim estávamos vivendo aquele momento. Foram muitos cuidados que a gente teve. Mas acho que dirigir é mais desafiador, porque depende de todos. Finalizar um longa também é desafiador. Essa questão do som, dos cuidados... É como fazer uma porcelana. Você tira o material do fogo, vai carregando com todo cuidado e não pode quebrar de jeito nenhum. São muitos sentimentos. E tem essa fase que eu estou vivendo agora, que é afinar o discurso sobre as filmagens, porque vêm perguntas que ainda não nos fizeram, como essa que você me fez agora.

QUAL A IMPORTÂNCIA DO CINEMA NA CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL?

Dira Paes - Quando entrei em contato com esse dado do tráfico de animais silvestres ser o terceiro no ranking internacional, perdendo apenas para armas e drogas, para mim, foi muito impactante. O tráfico de animais silvestres é um dilema internacional, porque existe um fetiche retrógrado do homem perante a natureza no mundo inteiro... E acho que é impossível falar em humanos sem falar de meio ambiente. As coisas estão tão intrínsecas hoje em dia. É importante falar que eu sou ativista ambiental desde os meus 13 anos, antes mesmo de eu ser atriz. Foi quando eu entendi que era da Amazônia, foi quando eu entendi tudo. Que havia muita coisa errada. Sempre fui a 'ecochata' e sempre fui reconhecida como uma pessoa que vai a Brasília, faço parte do Movimento Humanos por Direitos há 25 anos. Eu sou ativista e tenho muito orgulho disso. Infelizmente, eu estava certa e seguimos precisando de muitos ativistas. Precisamos que as pessoas sejam sensibilizadas por suas próprias vidas e agora chegou a hora da gente ser radical nesse ponto.

'Pasárgada' está em cartaz nos principais cinemas do Brasil.