O estigma histórico de Karim

Em cartaz em todo o Brasil com 'Motel Destino', cineasta cearense emplaca a produção inglesa 'Firebrand' nas telas da Europa, um ano depois de sua estreia em Cannes

Por Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

A sueca Alicia Vikander é a estrela de 'Firebrand', produção em língua inglesa que valeu uma indicação à Palma de Ouro para o realizador cearense Karim Aïnouz

Em meio à carreira nacional de "Motel Destino", que divide opiniões em circuito, o filme de ficção anterior do cineasta cearense Karim Aïnouz, o drama de tintas históricas "Firebrand", segue inédito em circuito brasileiro, um ano e meio após brilhar no Festival de Cannes, em concurso pela Palma de Ouro de 2023. Projetado em janeiro no também prestigioso Festival de Roterdã, na Holanda, o longa estreia agora em setembro nas telas da Inglaterra, pátria onde se ambienta. Visualmente exuberante, a produção narra o embate entre a rainha Catherine Parr (1512-1548) e o rei Henrique XVIII (1491-1547), numa narrativa de intrigas palacianas e amorosas, na qual se encontra a fragrância feminista que perfuma a estética do cineasta cearense desde "O Céu de Suely" (2006).

A sueca Alicia Vikander (oscarizada por "A Garota Dinamarquesa") encarna Catherine e Jude Law (num desempenho arrebatador) vive o monarca inglês. Batizado na França como "Le Jeu de la Reine", o filme foi escrito pelas irmãs Henrietta e Jessica Ashworth, autoras da série "Killing Eve". O elenco traz ainda Sam Rilley (que foi dirigido por Walter Salles em "Na Estrada") e Eddie Marsan (que fez "7 Dias em Entebbe" com José Padilha). A francesa Hélène Louvart - laureada com o Urso de Prata de Melhor Contribuição Artística no Festival de Berlim de 2023, por "Disco Boy" - assina a direção de fotografia desse "Game of Thrones" de Karim. Ela fotografou "A Vida Invisível" (2019) no Rio de Janeiro.

"Quando esse projeto me foi proposto, falavam pra mim assim: 'É a história da primeira mulher que publicou um livro na Inglaterra'. Isso é um dado relevante. Catherine fez isso. Mas não era a esse gesto que eu queria reduzi-la. Queria falar desse filme a partir de uma perspectiva política", disse Karim ao Correio, em Cannes. "Olhando a relação dela com as figuras de poder de seu tempo, na relação com aquele rei vivido pelo Jude Law, eu tenho a sensação de que estou falando de uma mulher que se casou com o Trump e foi amiga do Che Guevara. É uma mulher que está num trapézio político da História".