Mariana Caltabiano: 'Os desenhos de uma criança um dia podem inspirar um filme'
Ésempre um deleite ler as imersões de Mariana Caltabiano no oceano lúdico da prosa infantil, em livros como "Arca de Ninguém" e "Garrafinha: A menina que queria fazer amigos". Dá para notar neles como essa artista anfíbia (parte cineasta, parte escritora) expande os limites da imaginação ao retratar as descobertas da cabeça de uma criança.
Seu recente "O Menino Que Não Sabia Ler" (lançado pela Matrix Editora) ilustra a marca autoral de sua obra, caracterizada por reflexões sobre a educação sentimental de suas personagens. Essa mesma marca se impõe também em seus programas de televisão e em seus longas-metragens, como "As Aventuras de Gui e Estopa" (2009).
Quem for ao cinema hoje poderá perceber a autoralidade de Mariana em cada peripécia da abelhinha que protagoniza seu novo trabalho nas telas: "Zuzubalândia: O Filme", que entra em circuito neste fim de semana. A produção é um derivado da série de TV homônima, lançada pela realizadora no fim dos anos 1990.
No universo fictício criado por Mariana, Zuzubalândia é um reino encantado onde tudo é feito de comida. Ao lado desse lugar mágico vive uma bruxa que não gosta nem um pouquinho de se alimentar. Disfarçada de web influencer, ela convence as abelhas a pararem de polinizar e seguirem profissões como youtubers, designers de sobrancelha, professoras de ioga e outras. Em pouco tempo, a comida do reino começa a acabar e o único jeito de salvá-lo é passar pelo exército de zumbis da Bruxa e polinizar a última flor mágica da Floresta Mamônica.
Na entrevista a seguir, Mariana explica a gênese de Zuzu e disseca o motor de sua fantasia.
De que maneira o universo lúdico de Zuzubalândia conversa com a tradição literária infantojuvenil brasileira e com nosso histórico de narrativas animadas para crianças?
Mariana Caltabiano: Comecei a desenhar um reino onde tudo era feito de comida aos 9 anos de idade. Aos 25, quando estava fazendo um curso de cinema em Nova Iorque, percebi o quanto era apaixonada por livros infantis, pois passava boa parte do meu tempo livre visitando livrarias e pesquisando. Nesse período, escrevi o livro "Jujubalândia", que acabou se tornando programa de TV com bonecos, peça de teatro e, agora, um filme. O meu objetivo com o livro era proporcionar uma experiência que fosse muito prazerosa para as crianças brasileiras e que despertasse nelas o gosto pela leitura. Para alcançar esse objetivo, coloquei nessa criação, tudo aquilo de que gostava quando tinha nove anos de idade: tobogãs de sorvete, nuvens de algodão doce, camas elásticas de gelatina e outras coisas mais. Já o filme fala sobre a importância da polinização e também nos ensina a não acreditar em tudo o que vemos nas redes sociais. Apesar do filme não contar a mesma história do livro, ambos resgatam o que vivi de mais precioso na minha infância. O universo de Zuzubalândia me acompanha há 43 anos. Por isso, uma das mensagens do filme é a seguinte: os desenhos de uma criança um dia podem inspirar um filme. Minha história começa com um livro feito por uma criança e termina com um filme feito por outra.
Que tipo de heroína Zuzu é e o que ela representa acerca da infância, da juventude e mesmo da fantasia?
A Zuzu é uma heroína pouco convencional. Ela é meio egocêntrica e superficial. Está mais preocupada com sua carreira de "Web Diva" e com o desempenho de suas redes sociais do que qualquer outra coisa. Conforme a trama se desenrola, por necessidade, a personagem cresce e acaba conseguindo exercer o seu papel de heroína. Assim como a Zuzu, as crianças e jovens de hoje em dia estão muito envolvidos com as redes sociais. Uma das coisas que o público aprende com a Zuzu é que precisamos ter discernimento e não podemos acreditar em tudo o que os influenciadores dizem.
Qual é o maior desafio de se manter uma franquia animada na atual fase da indústria audiovisual brasileira?
A captação de recursos.
Como é a sua estrutura de produção para a criação de seus filmes? Que técnicas você usa nesse novo longa e qual é o tamanho da sua equipe hoje?
Eu contrato profissionais de acordo com o tamanho do projeto. Para este filme trabalhamos com uma equipe de 50 pessoas no total. A técnica utilizada é a animação 2D.