CRÍTICA FILME - FORÇA BRUTA: Um Dirty Harry gaiato

Por Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

O quarto volume da franquia 'The Roundup' atrai olhares para o coreano Don Lee

Mesmo sob a implacável patrulha do politicamente correto, o cinema de ação tem encontrado meios de se reinventar ora pela aposta em narrativas cinemáticas (como "John Wick"), ora por meio de astros com perfil de ferrabrás que desafiam o moralismo contemporâneo. O britânico Jason Statham cumpre bem esse papel em Hollywood, mas fora das fronteiras americanas quem vem assumindo a persona do "bruto imparável" (outrora chamada de "exército de um só homem") é o ex-boxeador sul-coreano Ma Dong-seok, hoje mais conhecido pela alcunha de Don Lee. Depois de chamar atenção em "Invasão Zumbi" (2016), ele estabeleceu reputação de astro em sua pátria com a franquia "The Roundup", iniciada em 2017.

O faturamento dessa gaiata cinessérie, traduzida aqui como "Força Bruta", hoje beira US$ 319 milhões. Embora seja bem-humorada, mas com o zelo de não virar chanchada (como se dava com os longas de Jackie Chan), ela resgata um ethos cascudo que contagiou as telas sobretudo nos anos 1970, com o chamado "poliziesco", o thriller à italiana (como "Milão Calibre 9"), e com a saga Dirty Harry, com Clint Eastwood. A cada nova aventura dessa iguaria da Coreia - já são quatro! -, Don lapida o carisma de seu personagem: o detetive brucutu Ma Seok-do, que não usa armas, mas tem um soco devastador. Suas tramas são baseadas em episódios reais das manchetes criminais da Ásia.

A partir deste fim de semana, o Brasil recebe o "episódio" mais áspero de todos os títulos da (até agora) tetralogia de Seok-do: "Sem Saída", lançado no exterior em 2023. Sua bilheteria global foi de US$ 83 milhões. A direção frenética de Lee Sang-yong assegura um dinamismo impecável nas sequências de perseguição e de confronto. No roteiro, o investigador com jeitão de Maciste vivido por Don vai inspecionar a entrada de um derivado da anfetamina em seu país, chamada Hiper. Ao correr atrás dos suspeitos, ele descobre a intervenção da Yakuza, a máfia japonesa, o que pode deflagrar um incidente internacional. Em meio a uma aeróbica de câmera convulsiva, Seok-do tenta resolver a questão com uma política de boa vizinhança feita de sopapos e de pontapés.