Memórias senegalesas
Roteiro de documentário é estruturado como uma cartografia do tráfego de uma série de relíquias beninenses surrupiadas por colonizadores europeus de volta ao lar
Sob as bênçãos dos orixás, "Dahomey", um documentário de 68 minutos feito entre o Benin, o Senegal e a França, pela atriz e cineasta Mati Diop, encontrou espaço nobre na safra autoral de 2024 ao conquistar o Urso de Ouro da Berlinale, em fevereiro. Escalado para representar o audiovisual senegalês na corrida por uma vaga na competição pelo Oscar de Melhor Filme Internacional do ano que vem, o longa-metragem arrebatou novos fãs em sua passagem por San Sebastián, no fim de semana. As projeções por lá foram uma forma de expandir o prestígio de Mati e ampliar o espaço dessa investigação antropológica nos debates políticos sobre o sucateamento do relicário africano.
"Meu empenho com 'Dahomey' é expor as ramificações do colonialismo e apontar onde a violência é praticada", disse Mati ao Correio da Manhã, na capital alemã.
Laureada em 2019 com o Grande Prêmio do Júri de Cannes de 2019 por "Atlantique" (lançado no Brasil via Netflix), Mati dá uma aula de geopolítica em "Dahomey, trilhando caminhos de fantasia. Seu roteiro é estruturado como a cartografia do tráfego de uma série de relíquias beninenses, surrupiadas por colonizadores europeus, de volta ao lar. Uma dessas peças, uma estátua chamada de Número 26, é quem narra a rapinagem histórica sofrida por populações da África, como se fosse uma entidade.
"É preciso restituir para reconstruir", disse Mati, ao falar do papel estratégico de sua narrativa, que será lançada no Brasil via streaming, na plataforma MUBI.