'Somos frutos das políticas públicas'

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Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

Éimpossível não pensar em "Cidade de Deus" (2002) diante das tomadas de um realismo cru que transformam o thriller social "Sujo", de Astrid Rondero e Fernanda Valadez, num ímã de prêmios, em prol do México, por onde passa desde janeiro, quando abocanhou o World Dramatic Award do Festival de Sundance. Neste sábado, o longa-metragem que pode levar o cinema mexicano ao Oscar (como representante oficial da pátria de "Chaves" aos votantes da Academia de Hollywood), tem tudo para ganhar o prêmio Horizontes Latinos de San Sebastián. Seu título é um nome de uma criança que é deixada órfã, aos 4 anos, depois do assassinato de seu pai, um matador a serviço dos carteis. Ao longo de uma narrativa frenética, vemos as idas e vindas do garoto (vivido por Juan Jésus Varela) pelas "quebradas" de um mundaréu cheio de tiroteios. É uma radiografia dos males do narcotráfico.

Num papo com o Correio da Manhã, em San Sebastián, Astrid, conhecida por "Los Días Más Oscuros de Nosotras" (2017), traça um olhar geopolítico sobre a Pangeia de colonização espanhola.

Embora a essência de "Sujo" seja uma reflexão sociológica, há momentos de fazer inveja aos filmes de ação de Hollywood, daqueles estrelados por Sylvester Stallone, pela dose farta de adrenalina e o requinte dos enquadramentos. Como essas sequências foram idealizadas?

Astrid Rodero - Gosto de "O Mensageiro do Diabo", de Charles Laughton, que foi uma das referências nas quais pensamos para a construção de um espírito de thriller. Era necessário um clima de tensão, em meio a um contexto social, em que algo de perigoso possa acontecer a cada instante. O apelo maior do cinema de ficção nesse registro é que ele consegue entreter ao mesmo tempo que abre debates.

De que México "Sujo" fala?

Astrid Rodero - Nós filmamos um México de descriminação, onde há uma realidade segura, de um lado, e uma realidade de ausência do estado do outro.

Desde Sundance, você e Fernanda Valadez têm sido citadas como parte de uma forte geração de mulheres cineastas das Américas. Como tem sido essa representatividade feminina no México?

Astrid Rodero - Temos uma significativa presença de mulheres na direção em nosso país desde os anos 1930. Matilda Landeta (de "Mulher de Rua") é uma delas. Ações públicas de investimento do nosso governo fez aparecer uma nova geração.

Qual foi o orçamento do filme e como ele se enquadra nas políticas culturais do México hoje?

Astrid Rodero - "Sujo" teve um custo estimado em US$ 1 milhão e é um resultado de políticas públicas que permitiram o alcance de pessoas de minorias distintas ao audiovisual. Está previsto para estrear em circuito mexicano no dia 5 de dezembro, em 350 ou 400 salas. Já vendemos o filme para 30 países.