Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Palavras que embriagam

Isabelle Huppert flana pela Coreia do Sul entre porres e conversas em 'As Aventuras de uma Francesa' | Foto: Divulgação

 

Desde que começou o Rio Market, a ala de mercado do Festival do Rio, inaugurada na manhã do dia 3, não há um só dia em que as palestras sobre o futuro do audiovisual não ressaltem o modelo de produção sul-coreano, com expansão de salas e ampliação de importações, como sendo um norte a ser seguido para filmografias que desejam sucesso.

A pátria de "Parasita" (a Palma de Ouro de 2019) emplacou muitas grifes autorais nos últimos 24 anos, mas nenhuma é tão prolífica quanto o diretor Hong Sangsoo. Um dos filmes mais procurados pelo público na maratona carioca deste ano é o seu "As Aventuras De Uma Francesa" ("A Traveler's Needs"), que abocanhou o Grande Prêmio do Júri da Berlinale 2024. O título no Brasil se refere à sua estrela, Isabelle Huppert.

Tem mais uma sessão dessa comédia dramática (se é que valem rótulos de gênero para a obra desse cineasta) nesta quarta (9), às 16h, no Cine Santa Teresa, com mais uma dose na quinta, às 13h45, no Kinoplex São Luiz. Várias funções em seus créditos são assinadas pelo realizador de "HaHaHa" (Prêmio Un Certain Regard em Cannes, em 2010), cujo nome, por é grafado Sang-soo ou Sang-Soo. Além de cuidar da direção, ele escreve, fotografa, edita, compõe a trilha sonora e produz. Sua Jeonwonsa Film Co. Production consegue dar conta de sua estética enxuta.

"Eu filmo situações do dia a dia que são simples. Não preciso de efeitos especiais. Eu mesmo opero a câmera. Só preciso de alguém para captar o som. Com isso, o orçamento é pequeno. A montagem fica por minha conta também", disse Sangsoo ao Correio antes das filmagens de "As Aventuras De Uma Francesa", ao lançar "Lá Em Cima" ("Walk Up"), no Festival de San Sebastián na Espanha. "Nem tudo o que aparece em cena precisa de uma explicação ou de uma conexão direta com a narrativa. Eu posso ser capturado pela imagem de um gato correndo, registrá-la e supor que faz sentido estético tê-la na edição de uma história que é absolutamente alheia àquele animal. Ele está ali só por fazer parte do mundo, por ter me oferecido um momento que, filmado, gera um sentido artístico".

Em seu novo filme, a flautista Iris (papel de Huppert) dá aula de francês para ganhar um troco na Coreia do Sul e, sempre que pode, entorna litros e litros de Makgeolli (um vinho de arroz) enquanto coleciona encontros, desencontros e aprendizados. A cada conversação que ela trava, mesmo falando banalidades, Sangsoo cria um painel poético do cotidiano.