Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Empate entre 'Malu' e 'Baby' na vitória do Festival do Rio 2024

'Depois de brilhar no Festival de Sundance (EUA), 'Malu', longa do carioca Pedro Freire (acima), se consagra no Festival do Rio e empata com 'Baby', do paulista Marcelo Caetano (no alto) | Foto: Fotos/Divulgação


Inaugurado no último dia 3 com o musical “Emilia Pérez”, o Festival do Rio 2024 encerrou sua programação na noite de domingo, no cine Odeon, coroando um par de longas-metragens com o troféu Redentor de Melhor Filme: “Baby”, de Marcelo Caetano (SP), e “Malu”, de Pedro Freire (RJ). O primeiro fez sua estreia mundial no Festival de Sundance, em janeiro, e o segundo estreou em maio, na Semana da Crítica de Cannes. A última vez que o evento terminou com empate foi em 2013, quando coroou “De Menor”, de Caru Alves de Souza, e “Lobo Atrás da Porta”, de Fernando Coimbra.

“Malu” toma seu título emprestado de uma atriz de passado glorioso, que se vê presa em um caos sentimental. A relação nada leve com sua mãe conservadora e sua filha adulta torna sua crise ainda mais aguda. Foi dado à longa ainda os troféus de melhor atriz (Yara de Novaes); melhor atriz coadjuvante (para Carol Duarte e Juliana Carneiro da Cunha); e melhor roteiro, assinado por seu realizador, Pedro Freire, estreante em longas de ficção antes consagrado por curtas.

Macaque in the trees
Baby | Foto: Divulgação

Love story assombrada por desamparos, “Baby” fala sobre um jovem recém-saído de um reformatório, que aprende novas formas de (sobre)viver numa São Paulo hostil. A produção recebeu ainda a láurea de direção de arte (assinada por Thales Junqueira) e a de melhor ator, dada a João Pedro Mariano.

O júri do Festival do Rio foi presidido pela atriz argentina Mercedes Morán (de “O Pântano”), que concedeu seu prêmio especial à jovem atriz Jamilli Correa, por “Manas”, um relato de denúncia do abuso sexua infantil e juvenil no Norte do país. Mercedes e seu time atribuíram a láurea de Melhor Realização a Luciano Vidigal por “Kasa Branca”, um comovente estudo sobre resiliências urbanas que se passa na Chatuba, em Mesquita.

Na Première Brasil do Festival do Rio, os longas-metragens documentais têm um par de troféus à parte para chamarem de seus. A láurea de melhor filme de não ficção ficou com “3 Obás de Xangô”, de Sérgio Machado. Sua narrativa relembra a amizade entre o compositor Dorival Caymmi, o best-seller Jorge Amado e o artista plástico Caribé, uma trinca de orixás da Bahia.

O prêmio de melhor direção de narrativas documentais foi confiado a Gabriela Carneiro da Cunha e Eryk Rocha por “A Queda do Céu”, lançado antes na Quinzena de Cineastas de Cannes. "Viva um cinema que sonha longe", comemorou Eryk no palco.

Construída nos moldes da mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes, de olho em propostas de linguagem transgressoras, a seção Novos Rumos consagrou uma belíssima trama de origem cearense sobre música: “Centro Ilusão”, de Pedro Diógenes.

Nesta segunda, salas do Grupo Estação em Botafogo e na Gávea iniciam a Repescagem, uma mostra extra que dá chance à população local de ver alguns dos hits da programação integral, exibida de 3 a 13 deste mês. A boa pedida de hoje é “Império”, comédia sci-fi que rendeu o Prêmio do Júri ao gaulês Bruno Dumont na Berlinale: passa no Gávea 2. Lá mesmo, rola o documentário “Misty – A História de Erroll Garner”, de Georges Gachot, sobre um mito do jazz. A boa do Estação NET Rio é a projeção seguida de dois documentários do chinês Wang Bing feitos para sua trilogia “Juventude”: “Tempos Difíceis” e “De Volta Ao Lar”. Na quarta, há um título imperdível: o terror “Herege”, com Hugh Grant, no Estação NET Gávea 5.

A premiação

Filme: “Baby”, de Marcelo Caetano, e a “Malu”, de Pedro Freire

Documentário: “3 Obás de Xangô”, de Sérgio Machado

Curta: “A Menina e o Pote”, de Valentina Homem

Prêmio Especial do Júri: Jamilli Correa, por “Manas”

Direção: Luciano Vidigal (por “Kasa Branca”)

Direção de documentários: Gabriela Carneiro da Cunha e Eryk Rocha (por “A Queda do Céu”)

Atriz: Yara de Novaes (por “Malu”) com menção honrosa para Diana Mattos, por “Betânia”)

Ator: João Pedro Mariano (por “Baby”)

Atriz Coadjuvante: Juliana Carneiro da Cunha e Carol Duarte (ex aequo por “Malu”)

Ator Coadjuvante: Diego Francisco (por “Kasa Branca”)

Roteiro: Pedro Freira (por “Malu”)

Fotografia: Arthur Sherman (por “Kasa Branca”)

Montagem: Peterkino (por “Salão de Baile”)

Som: Marcos Lopes, Guile Martins e Toco Cerqueira (por “A Queda do Céu”)

Trilha Sonora Original: Fernando Aranha e Guga Bruno (por “Kasa Branca” e “Quando Vira a Esquina”)

Direção de Arte: Thales Junqueira (por “Baby”)

Novos Rumos: “Centro Ilusão”, de Pedro Diógenes

Prêmio Félix (láurea queer): “Tudo Vai Ficar Bem”, de Ray Yeung (Internacional) e “Avenida Beira-Mar”, de Maju de Paiva e Bernardo Florim (brasileiro)