Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Cillian Murphy, um reator para a Mostra de SP

'Pequenas Coisas Como Estas' leva Cillian Murphy à Irlanda dos anos 1980 numa trama sobre os bastidores da Igreja | Foto: Divulgação

Cerca de oito meses depois de sua passagem pela abertura da Berlinale, lá em fevereiro, "Pequenas Coisas Como Estas" ("Small Things Like These") viu seu cacife comercial subir após a consagração de seu protagonista, o irlandês Cillian Murphy, no bonde dos Oscars dados a "Oppenheimer", que lhe rendeu a estatueta de Melhor Ator. Desde então, ele se meteu a filmar a sequência do cult "Extermínio" (2002), chamada "28 Years Later", e um filme ligado à série "Peaky Blinders", batizado "The Immortal Man".

Depois de uma longa espera pelo drama que o levou ao abre do Festival de Berlim, o Brasil vai finalmente poder conferir essa produção a partir desta quinta-feira, na grade da 48ª Mostra de Cinema de São Paulo. Cillian poderá ser visto às 20h50, no Kinoplex Itaim 1, e na sexta, às 19h15, no Cinesesc.

Vilão da franquia "Batman", sob a máscara do Espantalho, o ator vive um momento de apogeu, aos 48 anos, numa trajetória repleta de acertos. Ele foi o protagonista de um drama político responsável pela primeira Palma de Ouro dada ao marxista Ken Loach: "Ventos da Liberdade" (2006). Só isso já valeria para ampliar sua fama.

Se não bastasse toda a sua aclamação na telona, ele ainda faz sucesso no streaming (via Netflix) com a já citada "Peaky Blinders", trama mafiosa que, de tão aclamada, inspira uma linha de camisetas estampadas com o rosto do ator. Tem até bonecos dele à venda em sites como o Magalu. Na capital alemã, durante a projeção de "Pequenas Coisas Como Estas", na disputa pelo Urso de Ouro, tinha gente carregando cartazes dele para os cinemas da Berlinale, em busca de um autógrafo.

Apesar de sua narrativa intimista e de temas ásperos (aborto, violência clerical, pobreza), o longa-metragem, dirigido por Tim Mielants, vindo da Irlanda, adquiriu um status de espetáculo em função da presença do astro de "Oppenheimer". Em janeiro, Cillian ganhou o Globo de Ouro pelo papel do inventor da bomba atômica, às vésperas do anúncio de "Small Things Like These" como abre da maratona germânica de onde o longa saiu com o Urso de Prata de Melhor Coadjuvante para Emily Watson.

"Queria muito trabalhar com Tim de novo, depois do que fizemos no set de 'Peaky Blinders', e saímos em busca de um projeto que nos tocasse até que minha mulher me sugeriu a literatura de Claire Keegan", disse Murphy, ovacionado na Berlinale.

O best-seller homônimo de Claire foi a base de "Pequenas Coisas Como Estas", cuja produção é assinada pelos atores Matt Damon, Ben Affleck e pelo próprio Cillian, que protagoniza o filme no papel de Bill Furlong, chefe de um entreposto de carvão. Às vésperas do Natal de 1985, ele se dá conta de segredos de sua comunidade, envolvendo uma atitude dominadora da Igreja envolvendo adolescentes grávidas. É uma alusão ao caso conhecido como As Irmãs Madalena, no qual jovens eram escondidas em conventos, por freiras, e tinha seus bebês confiscados. Emily Watson é a (assustadora) religiosa que entra em choque com Furlong.

"A arte pode ser um alívio para as feridas", disse Murphy.

Parceiro de Cillian em "Oppenheimer", Damon passou por Berlim para assegurar uma acolhida mais serena a um longa polêmico. "Com esse time de artistas envolvidos, meu trabalho era apenas facilitar o ambiente para todos", disse Damon, em Berlim.

Na sequência do Festival do Rio, a Mostra de São Paulo se impõe como o novo epicentro dos debates estéticos do cinema no país, inaugurando sua programação nesta quarta-feira com "Maria Callas", do chileno Pablo Larraín, que foi indicado ao Leão de Ouro de Veneza, em agosto. A cerimônia de abertura acontece às 20h, na Sala São Paulo, com apresentação de sua diretora geral e curadora, Renata de Almeida, e do apresentador Serginho Groisman.

Estrelado por Angelina Jolie, "Maria Callas" faz um relato fictício dos últimos dias de vida de uma das mais celebradas cantoras de ópera da História. A trama acompanha a última semana da soprano na Paris dos anos 1970 e perpassa memórias, retratando seus amigos, seus amores e sua voz.