Por: Pedro Sobreiro

Efe Carakal, mais que empresário, um cinéfilo

Efe Cakarel deu início ao MUBI para abrigar filmes que ele não encontrava nas plataformas convencionais | Foto: Pedro Sobreiro

Mais do que um festival de cinema, a 48ª Mostra de São Paulo promove momentos importantes para o segmento como o IV Encontro de Ideias Audiovisuais, que trouxe ao Brasil o turco Efe Cakarel, o criador da Mubi, a mais cult das plataformas de streaming e a que mais cresce no mundo.

O empresário contou sobre o surgimento de sua plataforma há 17 anos, e quais as projeções da empresa para o futuro, já que eles emplacaram um sucesso mundial nas telonas, com chances fortíssimas de aparecer nas principais cerimônias de premiação: "A Substância".

No painel, Carakel se definiu como alguém "terrivelmente apaixonado por cinema" e contou que a ideia da Mubi surgiu em um café em Tóquio. Formado em Engenharia Elétrica e Ciência da Computação pelo MIT, ele parecia ver nesse mundo matemático o seu futuro. Porém, ele tinha essa paixão pela Sétima Arte. Na época, ele queria assistir "Amor à Flor da Pele" (2000), de Wong Kar-Wai, mas não encontrava o título em lugar nenhum. Então, foi entre 2006 e 2007 que surgiu a ideia de fazer uma plataforma onde o público pudesse encontrar esses filmes que aparentemente não interessavam às grandes empresas.

"Por volta de 2006, 2008, eu sabia que precisava ir para Cannes se quisesse ter acesso aos melhores produtores, mas não tinha um filme e mal tinha um serviço que pudesse ser reconhecido pela organização. Então decidi arriscar e enviar um e-mail para eles, dizendo que nos próximos 17 anos, se quisessem expandir o lançamento dos filmes, teriam que abraçar nossa ideia. E para a minha surpresa, me credenciaram para o Festival de Cannes. Quando cheguei ao "Le Palais", estava me tremendo todo.

Inicialmente, a Mubi investia nos chamados filmes de catálogo, que ficam disponíveis após três anos do lançamento cinematográfico de forma não exclusiva. Isso permitiu que a Mubi fosse notada por grandes nomes.

Virada de chave

Mas houve uma grande frustração, que acabaria se tornando uma virada de chave na empresa: "Parasita".

"Em 2019, assisti o filme e fiquei fascinado. Na época, ninguém fazia ideia do sucesso que ele viria a se tornar. Negociei para viabilizar seu lançamento exclusivo na Mubi imediatamente após a sair de cartaz dos cinemas, e estava praticamente tudo certo. Só que o filme começou a ter aquele desempenho espetacular nos festivais internacionais e recebi uma ligação dizendo: 'Efe, a Amazon fez uma oferta irrecusável. Não vamos poder continuar com o acordo'. Nesse momento tudo mudou. Isso nunca poderia acontecer novamente. Sabe? Uma coisa é eu ter 'Parasita' no catálogo hoje. Outra coisa completamente diferente é ter 'Parasita' no seu streaming dois, três meses depois do lançamento do filme. Foi então que entendi que se quisesse ter filmes no meu catálogo, eu teria que conseguir os direitos completos. Eu teria que entrar no ramo de distribuição", explicou.