Sob as bênçãos da Padroeira do subúrbio

Sala de cinema recém-inaugurada na Penha acolhe produções nacionais que ampliam o diálogo do público da Zona Norte com as narrativas autorais do audiovisual do Brasil

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Nosso Sonho

Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

Tradicionalmente associado ao Odeon e às salas do Grupo Estação na Zona Sul, o Festival do Rio amplia seu circuito, em 2024, ao incorporar a mais nova tela da cidade em seu perímetro de exibições: o Cinecarioca Penha - a recém-inaugurada sala que expande a cinefilia nos subúrbios fica na Av. Brás de Pina, 150.

A fina programação ligada ao evento foca em títulos nacionais nesta segunda-feira (7) tem duas produções de peso: às 14h, rola "Levante", de Lillah Halla, e às 16h30, o maior sucesso de bilheteria do país de 2023, "Nosso Sonho - A História de Claudinho e Buchecha".

Trator estético, capaz de passar por cima de todas as incongruências morais do país e de nossa pontual inércia na recepção de exercícios audiovisuais, "Levante" chega muito bem referendado por prêmios país - e planeta - adentro. Lançado mundialmente na Semana da Crítica de Cannes de 2023, quando ganhou o Prêmio da Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica (Fipresci), o longa deixou o Fest Aruanda, na Paraíba, com as láureas de Melhor Filme, Melhor Atriz (Ayomi Domenica), Atriz Coadjuvante (Loro Bardot), Roteiro (de Lillah e Maria Elena Morán), Som (Waldir Xavier) e Figurino (Nicole Davrieux). A trama narra o processo de uma jovem atleta que engravida sem desejar e opta por abortar. Mas vai enfrentar resistências por isso.

Com 500 mil ingressos vendidos, "Nosso Sonho - A História de Claudinho e Buchecha" é um convite às lágrimas. Seu diretor, Eduardo Albergaria, viu seu nome se associar a um fenômeno popular que gruda em corações e mentes sobretudo no subúrbio. Teve gente saindo pelo ladrão das sessões do Kinoplex Norte Shopping e do cinema de Madureira. Espera-se o mesmo na Penha. Comovente do começo ao fim, sem ser excessivamente melosa um segundo que seja, a produção aposta no carisma da dupla que ajudou a levar a alegria e a resiliência das periferias cariocas para a música. À luz elegante da fotografia de João Atala, Lucas Penteado e Juan Paiva encarnam os bardos românticos por trás de "Só Love" e "Fico Assim Sem Você". Não por acaso, ao longo de uma carreira meteórica, interrompida pela morte de Claudinho (num acidente na Dutra, em 2002), os dois cantaram: "Nossa história vai virar cinema/ E a gente vai passar em Hollywood, mas/ Se ninguém gostar não tem problema/ Meu bem um grande amor/ Não há quem mude".

Fundador da produtora Urca Filmes, usina de séries e documentários, Albergaria despontou na direção com o curta "Achados e Perdidos" e estreou na direção de longas com uma trama romântica meio argentina, meio carioca, chamada "Happy Hour" (2018). "Niteroiense de origem, sou do ingá, da rua Pereira Nunes, vizinho da faculdade de cinema da UFF, onde sonhava estudar até que Collor nos atravessou e fez este sonho parecer impossível. Adiei o cinema por alguns anos até que não aguentei mais", conta o realizador, aos 50 anos.

Nesta terça, a grade do Cinecarioca Penha exibe "Tô de Graça - O Filme", às 14h, e "Estômago 2 - O Poderoso Chef", às 16h.