João Daniel Tikhomiroff: 'Há entidades que são criadas pelos humanos'

Por Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

' Perfekta', longa de João Daniel Tikhomiroff, é um filme dirigido a jovens e adultos que consegue dialogar com códigos da ficção científica

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Dia das Crianças tá aí na porta, é sábado, e, nessa data, o Odeon, nas trilhas do Festival do Rio, vai levar a gurizada (com mães, pais, avós, tias e tios a reboque) para uma jornada a uma nova fronteira, onde o cinema brasileiro raramente esteve: a ficção científica... e de linha mirim. Vai ser dia de "Perfekta, Uma Aventura da Escola de Gênios". Quem pilota essa nave lúdica é um dos mais bem-sucedidos diretores que a publicidade nacional já conheceu (com uns 41 Leões no Festival de Cannes voltado a comerciais e reclames), respeitado também como produtor e cineasta: João Daniel Tikhomiroff.

Em 2010, ele entrou na Berlinale com "Besouro", incursão rara de nossa filmografia nas tramas de lutas. Em 2017, dirigiu Renato Aragão no musical "Os Saltimbancos Trapalhões Rumo a Hollywood". Agora, com base num seriado infantojuvenil de forte adesão popular, ele dá à maratona cinéfila carioca seu exercício narrativo mais bem lapidado, capaz de dialogar também (e bem) com adultos.

Na trama, os jovens gênios Isa, Tom e Linus precisam salvar a memória do robô Einstein. Para isso, eles vão contar com a ajuda do cientista Édison, que vive isolado no Laboratório Perfekta, um lugar habitado por androides de última geração inspirados em grandes gênios da humanidade. Após um incidente durante um upgrade, Einstein torna-se perigoso e assume o controle de Perfekta. Agora, os três jovens precisam enfrentar os androides e reconquistar a confiança de uma máquina gente como a gente.

Depois de uma aventura histórica nas raias dos filmes de luta, que foi "Besouro", e de um musical com Renato Aragão, você vem, com "Perfekta", adentrar a seara da ficção científica. O que norteia essa viagem sua pelos gêneros?

João Daniel Tikhomiroff: Seja falando do passado ou refletindo sobre o futuro, eu adoro contar histórias com propostas mais originais que abordem aspectos humanos em trajetórias heroicas. "Perfekta" retrata o questionamento de até onde pode ir a IA (inteligência artificial) antes de conflitar com a perspectiva humana. Foi um filme que nasceu por acaso, em meio ao trabalho com a série "Escola de Gênios", durante uma conversa na TV Globo, quando me provocaram com uma questão: "por que você não faz um filme desse universo?". O longa veio desse estímulo e se tornou uma história sobre confiança no próximo. Ele fala de tecnologia, mas também de encontros, relações paternas, de bullying. Os androides têm sentimento.

Qual foi o primeiro robô das histórias da sci-fi que despertou sua atenção, na infância?

Foi no desenho "Os Jetsons". Depois, meu amor pela ficção científica cresceu ao ler a coleção portuguesas de livros "Os Argonautas", onde estavam autores como Arthur C. Clarke, Isaac Asimov, Ray Bradbury. No cinema, o impacto veio com "2.001 - Uma Odisseia no Espaço", de Stanley Kubrick, que me fez chorar.

De que maneira "Perfekta" pode se encaixar na faixa do "family film"?

Se você pegar um filme como "Divertida Mente 2", que bateu todos os recordes, ele trata de questões complexas do cérebro sem deixar de lado uma faceta de aventura bonita para crianças. É um formato que busca engajamento de todos os lados. A alta tecnologia hoje pode gerar inseguranças, sobretudo no avanço da inteligência artificial. Eu tentei narrar esse conflito em paralelo a uma trajetória familiar de aceitação. É uma forma de criar identificação. Em "Besouro", eu falei dos orixás. Nesse novo filme, não abandono o lado mitológico, ao conceder emoções aos robôs. Há entidades que são criadas pelos humanos. São esses androides.