CRÍTICA FILME - O VIDREIRO: Um grande acerto estético paquistanês

Por Pedro Sobreiro

O Vidreiro

Uma das maiores vantagens de eventos como a Mostra de São Paulo seja a oportunidade de assistir filmes que repercutem mundialmente, mas que, de forma inexplicável, dificilmente entrarão em circuito nos cinemas brasileiros. Nesse cenário, a animação 'O Vidreiro' fez sua estreia em terras brasileiras nas salas da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

Dirigido por Usman Riaz, 'O Vidreiro' é o primeiro filme de animação feito completamente em 2D da história do Paquistão. Inspirado nos sucessos de Hayao Miyazaki, do Studio Ghibli, o longa é uma história de amor e guerra entre dois apaixonados pela arte e suas diversas manifestações.

O longa vem se destacando internacionalmente e foi escolhido para ser o representante paquistanês na disputa por uma vaga na categoria de Melhor Filme Estrangeiro do Oscar, categoria na qual 'Ainda Estou Aqui' provavelmente representará o Brasil, por exemplo. Ou seja, é um projeto que conta com plena confiança do país.

A trama acompanha Vincent, um jovem vidreiro adepto do pacifismo, e Alliz, a filha do heroico coronel que tenta defender o país no front da guerra em que estão inseridos. Nesse contexto, a duplinha se conhece ainda na infância e cresce com o sonho de viverem da arte. Vincent usa sua sensibilidade e talento para moldar o vidro, enquanto Alliz maneja o violino com uma capacidade musical sobrenatural. O tempo passa, a guerra avança e os dois vão crescendo cada vez mais colados, até que a vida adulta chega, separando os queridos.

O grande destaque do filme é a estética. Sem sombra de dúvidas, o trabalho de aproximadamente uma década da produção para fazer esse filme de forma quase artesanal valeu cada segundo. Os detalhes, os figurinos, os cenários... É tudo meticulosamente construído da forma mais fascinante possível. Mas nada supera as cenas de Vincent moldando o vidro e construindo suas estruturas. São lindíssimas.

Narrativamente falando, o filme tem seus momentos de confusão, principalmente pela inserção de uma trama sobre os Djinn, uma criatura mitológica muito popular na cultura local. O Djinn mais famoso da cultura pop mundial é o gênio da lâmpada, dos contos do Aladdin, mas em 'O Vidreiro', ele assume um papel menos cômico e mais fiel ao mito paquistanês. O problema é que fica realmente confuso em meio a esse cenário de amor em meio a guerra.

No fim das contas, além do visual sensacional, o grande mérito do filme é construir esse amor pelas diferentes formas da arte. Vincent e Alliz se conectam e desenvolvem sua relação por meio da paixão pela arte um do outro. E o que é o cinema se não a celebração da arte? É um filme interessantíssimo que merece um espaço nos cinemas brasileiros, mesmo que de forma breve.