Renata Paschoal: 'Segui minha intuição até o fim'

Por Por Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Renata Paschoal, cineasta, atriz e produtora

Quem for prestigiar o festival Cinemina nesta segunda-feira (24), às 20h30, no Estação NET Botafogo, pode contar, desde já, com uma garantia de gargalhadas, assegurada pela elegante dramaturgia de "Todo Mundo (Ainda) Tem Problemas Sexuais", o filme de estreia da atriz e produtora mineira Renata Paschoal na direção de longas-metragens de ficção.

O título soou familiar? É que ele se alinha com o legado anfíbio (meio teatro, meio cinema) de Domingos Oliveira (1935-2019), parceiro criativo da diretora em vários projetos. Ela produziu alguns dos exercícios audiovisuais mais respeitados (e premiados) do mítico diretor e dramaturgo, como "BR 716", que ganhou um balde de Kikitos em Gramado, em 2016. Em agosto deste ano, o evento gaúcho conferiu o troféu de Melhor Documentário de 2024 para Renata, por "Clarice Niskier - Teatro dos Pés à Cabeça", que já está no ar no Canal Curta!, além do CurtaOn.

Ela entrou no Cinemina - um panorama plural de vozes autorais femininas do Brasil - rodeada de talentosas diretoras. Desde sua abertura, na quinta, o festival abriu as telas do Estação para Anna Muylaert, Mariana Jaspe, Clara Linhart e Eva Pereira. Amanhã, é a vez de Julia de Simone exibir "Praia Formosa". Quarta tem Valentina Homem e Fernanda Bond com "Um Dia Antes de Todos Os Outros". Na quinta, no fecho da programação, rola (o belo) "Incondicional - O Mito da Maternidade", de Patrícia Fróes, seguido de "Ensaios Sobre Yves", de Patrícia Niedermeier. As sessões são sempre às 20h30. "Todo Mundo (Ainda) Tem Problemas Sexuais", o destaque desta segunda nessa maratona obrigatória, fez um barulhinho (danado) de bom na Mostra de São Paulo, em outubro. Com estreia prevista para o primeiro trimestre de 2025, essa narrativa em segmentos propõe uma antologia sobre o benquerer com quatro histórias independentes, todas centradas em inseguranças e desejos.

Renata explica ao Correio da Manhã a trança que fez ao refletir sobre o Cupido.

O que "Todo Mundo Tem Problemas Sexuais", a peça, simbolizou de mais forte para o teatro brasileiro e qual foi o seu envolvimento com o texto no palco?

Renata Paschoal: Quando a peça estreou eu tinha acabado de chegar ao Rio de Janeiro. Não conhecia o Domingos e fui assistir. Eu me lembro de rir às gargalhadas. Acredito ter sido uma comedia inovadora para a época. Falava de sexo com leveza e inteligência, sem nenhum pudor e com muito humor. Um sucesso que ficou anos em cartaz.

O filme de 2008 te serviu de parâmetro de alguma forma?

Acho que não. Fiquei, inclusive, na dúvida se colocava o mesmo título, porque poderia ser confundido como uma continuidade. O filme que mais me empolgou, como um parâmetro, foi "Relatos Selvagens". Eu me lembro de sair do cinema empolgada e de propor ao Domingos fazermos o "Todo Mundo..." com novas histórias independentes e sem repetir o elenco. Domingos brincou: "Você está querendo fazer o 'Relatos Sacanas'."

De que maneira se deu o seu contato com Domingos Oliveira e o que ele te trouxe de mais possante, como criador?

Eu conhecia pouco o Domingos e sua obra. Comecei a trabalhar com ele em 2004, como produtora de teatro, na peça "Profissão Ancora", por indicação de uma amiga. Ele achou que eu tinha talento para produção e me disse: "Vamos fazer um filme." Eu nunca tinha trabalhado com cinema. Era atriz, autodidata, mas, ele disse: "Eu te ensino". Assim produzi o primeiro longa, "Carreiras". Depois disso foram 12 longas-metragens até aqui. Foi Domingos também que, em 2019, aos poucos, acabou me conduzindo para a direção. Nunca imaginei que um dia estaria dirigindo filmes, ganhando Kikito com meu primeiro documentário e tendo a Downtown Filmes - uma das maiores distribuidoras brasileiras - lançando a minha primeira comédia de ficção.

Qual é o olhar sobre o feminino que seu novo filme traz?

O principal foi atualizar as histórias e trazer uma equidade aos casais protagonistas. Busquei dar ao filme um olhar integralmente feminino, trazendo para as histórias protagonistas que se apropriam de seus desejos, de suas dúvidas e decisões, em total equidade aos homens. Nas equipes, também tínhamos muitas mulheres em todos os setores: fotografia, som, arte, produção e etc.

Como foi a experiência de filmar "Clarice Niskier - Teatro dos Pés à Cabeça", longa que ganhou a competição de documentários do Festival de Gramado?

Foi muito desafiador e intenso. Um mergulho em muitas horas de material de arquivo, estudo e entrevistas, ao longo de meses de trabalho. Não conhecia a trajetória da Clarice, embora tenha trabalhado com ela na série "Confissões de Mulheres de 50", em que eu assino a direção com o Domingos. Embora eu nunca tivesse feito um documentário, tinha certeza do que eu queria, e segui minha intuição até o fim. Fiquei feliz com o prêmio.