Varre, vassourinha de Oz!

Pavimentando uma estrada milionária em circuito, o musical 'Wicked' desponta nas listas de apostas para o Oscar, como a da revista 'Variety', que acredita na força de 'Ainda Estou Aqui'

Por Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Importado da Broadway, 'Wicked' arranca sorrisos do circuito exibidor com sua exuberância estética

 

De quinta-feira passada até agora, à força de uma montanha de tíquetes vendidos ao redor do planeta, "Wicked", já em cartaz entre nós, começa a ganhar um perfil de favorito na corrida pelo Oscar 2025, que, daqui a 19 dias, confirma, em definitivo, as chances reais (e merecidas) de "Ainda Estou Aqui" concorrer. Em 17 de dezembro serão divulgadas as shortlists (espécie de eliminatória) da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, para algumas categorias. Trata-se de uma peneira dos 15 longas-metragens que passam pelo primeiro crivo da instituição em quesitos como o Melhor Filme Internacional.

É desse contingente que saem os indicados, cinco ao todo, a serem anunciados no dia 17 de janeiro, quando sai a lista oficial de concorrentes que estarão em concurso na cerimônia hollywoodiana, agendada para 2 de março, no Dolby Theatre, em Los Angeles. Há 90 produções inscritas, do planeta inteiro.

O mais importante periódico do mundo quando o assunto é a indústria audiovisual, a revista "Variety", já bateu o martelo em prol de Walter Salles. Segundo a publicação, o drama baseado na batalha da advogada e ativista Eunice Paiva (vivida por Fernanda Torres) contra a ditadura já faz parte do "clube dos cinco".

Na seleção da "Variety", "Ainda Estou Aqui", que já atraiu 2 milhões de pagantes aos cinemas, figura ao lado do seguintes longas: "Dahomey" (Senegal), que ganhou o Urso de Ouro de Berlim; "Emilia Pérez" (França), que abriu o Festival do Rio; "Kneecap" (Irlanda); e "The Seed of the Sacred Fig", um misto de drama e thriller iraniano mas que concorre pela Alemanha, uma vez que seu diretor, Mohammad Rasoulof, condenado pela lei de seu país, encontra-se refugiado em terras germânicas.

A "Variety" não fala em Fernanda entre suas apostas (sempre quentíssimas). É possível que esse quadro mude quando as láureas da Oscar Season (temporada de premiações) começarem a ser divulgadas, como é o caso do Globo de Ouro, que revela seus competidores no próximo dia 9 e entrega seus troféus em 5 de janeiro.

O que não deve mudar (muito) daqui até março é a presença de dez produções - algumas tamanho GG; outras de baixo orçamento, de perfil indie - enquadradas pela revista (e por vários sites respeitáveis) na raia de Melhor Filme.

"Anora", Palma de Ouro de Cannes de 2024, é uma delas e só faz crescer nas especulações. É uma comédia (ácida), dirigida por Sean Baker (de "Projeto Flórida"), sobre uma dançarina de um clube de striptease que ensaia um casamento com um milionário russo. O longa, filmado e finalizado com uma verba de US$ 6 milhões, já ostenta uma arrecadação comercial de US$ 23 milhões, na venda de ingressos, nos poucos países nos quais já estreou. Os rankings de excelência que o destacam tiveram uma surpresa no fim de semana passado com "Wicked".

O musical, dirigido por de Jon M. Chu (do sucesso "Podres de Ricos"), é adaptado do espetáculo homônimo da Broadway lançado em 1995 por Winnie Holzman e Stephen Schwartz, com base no romance "Wicked: The Life and Times of the Wicked Witch of the West", de Gregory Maguire. Essa adaptação custou uma baba (US$ 150 milhões) mas já faturou uma baba ainda maior (US$ 178,7 milhões) desde seu lançamento, no dia 21.

Pelo planisfério cinéfilo adentro, seu faturamento tem sido dos mais sólidos, apoiado em sua exuberância visual e canora, em especial quando Cynthia Erivo e Ariana Grande põem toda a potência de seus diafragmas em xeque. Aliás, já anda rolando um "já ganhou!" em torno de Erivo, como Melhor Atriz, por seu desempenho num filme que tem tudo de que Hollywood gosta - e de que precisa - nestes tempos marcados por discursos inclusivos e pleitos pela diversidade.

Pontuado por um discurso antirracista, o filme narra a saga da Bruxa do Oeste celebrizada em "O Mágico de Oz", na literatura e no clássico filme de 1939, com Judy Garland de Dorothy.

Erivo esbanja carisma no papel de Elphaba, uma jovem estudante de magia incompreendida por conta de sua pele verde. Em sua formação nas artes mágicas, conhece Galinda (Ariana), uma jovem popular, que a hostiliza de início, mas não tarda a se afeiçoar pela colega. Após um encontro com o Maravilhoso Mágico de Oz (Jeff Goldblum, impagável em cena), a amizade delas chega a uma encruzilhada.

Nessa trajetória, a plateia se embevece com canções que anestesiam o peito, em coreografias que desafiam as leis da gravidade.

Se "Wicked" se firmar como a máquina de fazer dinheiro que parece ser, seu cacife da briga por vários Oscars - em especial os de Figurino, Direção de Arte, Maquiagem & Cabelo e Montagem - há de crescer. Este ano, "Oppenheimer" foi premiado pela Academia em sete prêmio por cumprir - com esplendor - o papel da superprodução a um só tempo popular e de prestígio. Em meio à luta para manter as salas de exibição movimentadas, isso é tudo de que Hollywood carece. Vem aí, contudo, um outro concorrente ligado à música, "Um Completo Desconhecido" ("A Complete Unknown"), de James Mangold, que pode também arrecadar fortunas - e virar o placar - ao narrar a juventude de Bob Dylan, nos anos 1960.

No painel de potenciais oscarizáveis de 2025, a "Variety" ressalta ainda a força do drama "O Brutalista", que rendeu o prêmio de Melhor Direção do Festival de Veneza a Brady Corbet, a partir do calvário de um arquiteto húngaro (interpretado por Adrien Brody) na América do pós-Guerra.

A enquete da revista sobre quem deve concorrer ao Oscar de Melhor Filme traz ainda: "Conclave", do germânico Edward Berger; "Duna: Parte Dois", do canadense Denis Villeneuve; "Emilia Pérez", do francês Jacques Audiard; "Gladiador II", do britânico Ridley Scott; "O Quarto Ao Lado", que rendeu o Leão de Ouro ao espanhol Pedro Almodóvar; e "Sing Sing", de Greg Kwedar, um americano do Texas.