'O Auto da Compadecida 2': um filme com a cara do Brasil

O aguardado (e sonhado) reencontro de João Griló e Chicó chega como presente de Natal em 'O Auto da Compadecida 2'

Por Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Selton Mello (Chicó) e Matheus Nachtergale (João Grilo) estrelam o filme que tende a ser o campeão nacional de bilheteria em 2025

Após uma maratona de pré-estreias em várias cidades, testando (e comprovando) a habilidade de "O Auto da Compadecida 2" para reafirmar a máxima de que "cinema é a maior diversão", o ator Matheus Nachtergaele volta para o Rio para passar o Natal em casa. Chega com a certeza de que vai entregar a seu país uma catarse inteligente sobre a arte de sobreviver... à nossa maneira. João Grilo, o mais popular personagem de sua carreira (que é das mais consagradas do país nas artes, seja na TV, na telona e nos palcos), regressa à telona amanhã, dia 25.

"Recebi o João da pena do Ariano Suassuna e aprendi com ele a fazer os diferentes timbres das diferentes gentes do Brasil sem debochar delas, com respeito", diz Matheus ao Correio da Manhã, celebrando a indicação que acaba de receber ao Prêmio APCA, dado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte, por seu desempenho como João Grilo e como o andarilho Antônio de "Mais Pesado É O Céu", filmaço de Petrus Cariry.

Presente audiovisual natalino do nosso cinema para sua nação, "O Auto da Compadecida 2" faz rir muito, mas também sabe comover. Usa uma brincadeirinha entre João Grilo (revisitado por Nachtergaele numa atuação luminosa) e seu melhor amigo, Chicó (Selton Mello, arrebatador), para disfarçar aquela torrente de ternura que só as amizades verdadeiras despertam: "Entrou uma coisinha aqui no meu olho...". Nalguns momentos, a partir deste 25 de dezembro, quando o longa-metragem dirigido por Flávia Lacerda e Guel Arraes estrear, a plateia vai sentir essa tal coisinha no olho ao rever dois personagens que se tornaram síntese viva do olhar pícaro do já citado dramaturgo Ariano Suassuna (1927-2014), criador dessa dupla de heróis maltrapilhos. Foi em 1956 que os palcos nacionais conheceram Grilo, numa peça repleta de referências ao fabulário ibérico, com alicerces fincados em arquétipos de séculos passados, inclusive da Idade Média. Em 1999, Guel levou as aventuras criadas por Ariano à TV, como minissérie da Globo. Adaptou-a para um formato de longa, de olho no cinemão, cerca de dois anos depois. Hoje no Globoplay, "O Auto..." em versão filme contabilizou 2.157.166 ingressos vendidos.

Espera-se mais (bem mais) da parte dois, engenhosamente fotografada por Gustavo Hadba, a julgar pelas reações entusiasmadas que a produção gerou em sua exibição na Comic-Con Experience (CCXP), no início do mês. Escrito por Guel e João Falcão, com a colaboração de Adriana Falcão e Jorge Furtado, "O Auto da Compadecida 2" se passa vinte anos depois do original e mostra a pacata rotina de Chicó (Selton) no sertão nordestino, onde vive da venda de santinhos de madeira, a contar o causo da ressurreição de João Grilo (Nachtergaele). Seu grande amigo não dá notícias há duas décadas e Chicó acha que ele morreu novamente, até o dia em que João reaparece vivinho da silva e cheio de planos mirabolantes, que vão virar o Nordeste de cabeça para baixo, em meio a uma campanha política envolvendo um coronel (Humberto Martins) e um radialista (Eduardo Sterblitch). Dona Rosinha (Virginia Cavendish) tá de volta também, assim como Nossa Senhora, a Compadecida, encarnada por Taís Araujo.