Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Priscila Rozenbaum: 'Sou uma pessoa de parcerias'

A atriz carioca Priscilla Rozenbaum | Foto: Dalton Valério/Divulgação

Ao se instalar ali pelas bandas de Jean-Luc Godard (1930-2022), para um projeto teatral (hoje em gestação) ligado ao mais semiótico dos cineastas, Priscilla Rozenbaum há de se deparar com os aforismas revolucionários do realizador de "Acossado" (1960). Um deles diz: "A Quinta Sinfonia com regência de Von Karajan em CD é cultura, já a Quinta Sinfonia composta por Beeethoven é música - não são a mesma coisa". Nada que se faça sob signos godardianos pode ser definido pelo conceito de "é isso" ou "é aquilo".

Portanto, seja lá o que a atriz duplamente premiada com o troféu Kikito de Gramado (por "Separações" e por "Carreiras") estiver a extrair do diretor franco-suíço, o projeto terá potência(s) híbrida(s) e filosófica(s). Até essa aventura ganhar forma, Priscilla tem uma peça para encenar no Rio: a bela "Dois Contra o Mundo", que estrela ao lado de Márcio Vito. Na entrevista a seguir, Priscilla explica como (e o quanto) as alianças que se formam em meio a processos artísticos fundam (e refundam) seu modo de inventar.

Como se dá, na prática, seu encontro criativo com a Renata Paschoal, no palco e no set?

Priscilla Rozenbaum: O primeiro trabalho da Renata com a gente foi produzindo o "Profissão Âncora", em 2004. Nossa relação atingiu a maioridade esse ano. Estamos juntas, sem separações, há 21 anos. Depois disso Domingos quis fazer o (manifesto) BOOA (Baixo Orçamento e Alto Astral). Renata nunca tinha produzido cinema. Ela vinha como atriz e produtora de teatro, muito jovem ainda, do interior de São Paulo, mas já tinha feito Antunes Filho e outros mestres. Foi aprendendo a fazer cinema com a gente. Renata é uma pessoa que não fala, faz. Lutadora, ativa, gente boa, ela é merecedora de todos os Kikitos que levou como produtora e diretora. Ela estava produzindo a série "Confissões de Mulheres de 50", para o Canal Brasil (no fim da década passada). Nesse processo, Domingos já não estava bem, e ela pediu para acompanhar as filmagens, além de fazer a produção. Quando Domingos partiu, tínhamos gravado apenas cinco episódios, e eram dez. Nem os textos estavam prontos. Renata assumiu toda direção e foi como se ela sempre tivesse dirigido. Fez escola olhando o Domingos dirigir. Ali surgiu uma diretora, como se o Domingos tivesse deixado esse legado para ela. É lindo de ver. Por ter sido atriz, a Renata ama ator. Tem toda uma atenção para o nosso trabalho e vai fundo com a gente.

Depois de dirigir os cinco episódios que faltavam dessa série, como vocês seguiram criando?

Depois disso, veio um curta no qual ela atuou, o "Todo Mundo Ainda Tem Problemas Sexuais" e o documentário sobre a Clarice Niskier, pelo qual ela levou seu primeiro Kikito como diretora, em seu primeiro filme documental. Acompanhei bastante o .doc como espectadora do material bruto. No "Todo Mundo...", acompanhei desde a reescrita, já que haviam novos problemas sexuais e outros canceláveis com o tempo. No meio disso tudo, teve uma pandemia. Sei que posso contar com ela e ela sabe que estou aqui para o que precisar. Assim nós vamos seguindo, colocando no mundo mais obras do nosso mestre Domingos.

A partir de "Separações" (2002), ao ser premiada em Gramado, você ganhou um espaço de prestígio diferenciado (merecido) no cinema, como atriz. O quanto a volta às telas te permite investigar do processo de criação do cinema?

Depois do "Separações", ganhei Gramado com "Carreiras" também. Eu sou uma pessoa de parcerias. Dizem que isso vem da lua em Libra, e a Renata é minha parceira. Quando quis fazer o "Dois Contra O Mundo", Renata me disse: 'Te ajudo na produção, mas só quero dirigir cinema!'. Combinamos assim, só que o diretor que ia nos dirigir estava super ocupado em São Paulo e Renata já estava fazendo uma espécie de assistência. A Renata, com seu jeito de colocar a vida pra frente, já tinha marcado pauta no Teatro Domingos Oliveira. Tínhamos a data e não podíamos esperar o diretor. Assim foi... Renata assumiu lindamente a direção. Nós conseguimos uma equipe dos sonhos. Eram pessoas que já tinham trabalhado comigo e o Domingos, como a Kika Lopes (figurino), o Aurélio de Simoni (luz) e o Ronald Teixera (cenário). Eu coloquei minha parte, que recebi da montagem de "A Casa dos Budas Ditosos", e produzi com esse dinheiro o nosso espetáculo, como o Domingos faria. Do teatro o que é do teatro.

Tem algum outro projeto seu para 2025 sendo gestado?

Além do "Dois Contra o Mundo", estou com um projeto sobre as relações homem e mulher em cima da obra de Godard, com o José Karini. Já começamos a estudar os filmes e queremos produzir esse ano.