Já em streaming, na grade da MUBI, "A Substância" ("The Substance") pode voltar ao circuito exibidor nas próximas semanas dependendo do quanto confirmar seu favoritismo no coração cinéfilo nesta manhã, quando seu título é esperado em múltiplas categorias durante o anúncio dos indicados ao Oscar 2025. Estrelas em ascensão, Rachel Sennott e Bowen Yang vão anunciar os concorrentes. Embora o coração brasileiro esteja em batucada por "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles, e sua estrela, Fernanda Torres, é forte a torcida para que o terror dirigido pela francesa Coralie Fargeat ganhe holofotes na festa anual da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.
Demi Moore, em sua atuação redentora, é o foco do ardor por essa produção de US$ 17,5 milhões que já arrecadou US$ 76,5 milhões mundo afora. As nomeações hollywoodianas serão transmitidas hoje ao vivo, via YouTube, a partir das 10h30. A URL www.oscars.org dá o caminho das pedras. A cerimônia de entrega das estatuetas está agendada para 2 de março, no Dolby Theatre, em Los Angeles, com Conan O'Brien como mestre de cerimônias.
A plataforma www.mubi.com já se antecipou ao provável êxito de Coralie e agendou para 1° de fevereiro a inclusão em seu menu do primeiro longa da cineasta: "Vingança" (2017). Aos 48 anos, ela estreou como realizadora em 2003, com o curta-metragem "Le Télégramme". O filme seguinte que rodou, "Reality " (2014), está na MUBI já. A corrida por sua obra é intensa, como decorrência da coqueluche provocada por "A Substância", que conquistou 74 láureas desde sua primeira exibição, em maio, no Festival de Cannes, onde recebeu a láurea de Melhor Roteiro.
É difícil não divagar sobre biologia diante das sequências filmadas por Coralie com Demi. Num trecho do livro "O Manifesto Ciborgue: Ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX", de 1984, a zoóloga e filósofa americana Donna J. Haraway afirma: "As máquinas do final dos anos 1900 tornaram completamente ambígua a diferença entre natural e artificial, mente e corpo, autodesenvolvimento e design externo, e muitas outras distinções que costumavam ser aplicadas a organismos e máquinas. Nossas máquinas são perturbadoramente vivas, e nós mesmos somos assustadoramente inertes".
Esse parágrafo poderia ser a sinopse de "A Substância". Sua engenharia não é metálica, é de carne. Uma carne que se molda ao bel-prazer da cultura da celebridade como se fosse uma placa de aço transcendendo em forma de escultura. As interferências realizadas no organismo que protagoniza seu enredo não se baseiam em ferro fundido, e sim, num soro, num remédio, o que não exclui a analogia com o pensamento de Haraway, centrado em qualquer "ajuste" não biológico num corpo, em qualquer "muleta" que nos tire do limite demasiadamente humano. É o que se passa com a atriz e apresentadora Elisabeth Sparkle, personagem que devolve Demi a uma ribalta que ela havia perdido. Continua na página seguinte