Por: Arthur Dagir

Petrobras assume Espaço de Cinema da rua Augusta, em São Paulo

Petrobras um dos mais tradicionais cinemas de rua de SP | Foto: Divulgação/ Carlos Dranger

O Espaço Augusta de Cinema, cinema de rua localizado na Rua Augusta, em São Paulo, recebeu na terça-feira (21), convidados para a inauguração do novo espaço e, consequentemente, para a apresentação de um novo patrocínio, dessa vez com a Petrobras. Com a nova parceria de naming rights, o local se chamará Espaço Petrobras de Cinema.

A estatal retornou com força a sua participação no fomento à cultura brasileira. Só nos dois últimos anos, ela voltou como patrocinadora master da Mostra de Cinema de SP e retomou as sessões especiais “Vitrine Petrobras”, projeto mensal que visa ampliar a distribuição de filmes nacionais em cinemas comerciais.

Nos últimos 30 anos, o local, um reduto da cinefilia paulistana, teve o patrocínio do Itaú, que também dava o nome a outros dois cinemas da rede, localizados nos shoppings Frei Caneca e Bourbon. Em abril do ano passado, o banco vendeu parte da operação dos cinemas para a Cinesystem. “Parte”, pois a unidade da Augusta ficou sob o comando de Adhemar de Oliveira, importante figura da cena cinematográfica paulistana.

Após menos de um ano com o nome “Espaço Augusta de Cinema”, o local se prepara para uma nova fase.

Desde dezembro do ano passado a direção do cinema já estava colocando um novo letreiro com o logo da Petrobras. Isso gerou um burburinho nas redes sociais, especulando que a empresa seria a nova patrocinadora.

Como frequentador do cinema, é muito estranho ver o logo da Petrobras ao invés do Itaú, mas sei que, com o tempo, me acostumarei ao novo letreiro.

O espaço em si não mudou radicalmente. Apenas mudaram o mencionado letreiro na entrada e bem acima da bilheteria. A livraria e o café continuam os mesmos também. Depois do evento de recepção dos convidados foram exibidos três filmes: a versão restaurada em 4K de “Terra Estrangeira” e os inéditos “Kasa Branca” e “Malês”.

O novo patrocínio e a revitalização do Espaço refletem a resistência que os cinemas de rua têm passado em SP. No ano passado o Cine Belas Artes, um símbolo da cidade, perdeu o patrocínio do Grupo Petrópolis após cinco anos de parceria. Não demorou muito para que fantasmas do passado retornassem de quando, em 2011, o cinema perdeu o patrocínio do HSBC e ficou fechado por três anos até conseguir um novo patrocinador. Apesar disso, o local firmou rapidamente uma parceria com a Reag Investimentos, que reformou toda a fachada, juntamente com as salas de exibição e diversificou a programação, tornando o Belas mais relevante do que nunca para SP.

O Augusta também tem as suas batalhas. Desde 2022 ocorre um imbróglio na Justiça de SP. Naquele ano, foi autorizada a demolição de duas salas do anexo do Espaço, localizado no lado oposto da Rua Augusta, para a construção de um empreendimento imobiliário. A comoção contra o fechamento na época foi tanta, que frequentadores se mobilizaram e juntaram 50 mil assinaturas em um abaixo-assinado contra a demolição do local.

Em março de 2023, houve uma reviravolta no caso quando o local foi reconhecido como Zona Especial de Preservação Cultural. No caso, a construtora do empreendimento deveria preservar o café e as salas durante a construção do prédio.

Em dezembro do ano passado, a demolição foi novamente autorizada pelo município e logo depois, no último dia 6 de janeiro, foi revogada novamente em decisão liminar, alegando que a demolição seria um “dano de incerta e difícil reparação, presentes requisitos legais e com o intuito de preservar o patrimônio cultural e imaterial da Cidade de São Paulo".

Só o futuro reservará as cenas dos próximos capítulos dessa cruzada dos cinemas de rua na maior metrópole do Brasil. Até lá, enquanto houver apoio a essa arte tão importante, eles resistirão.