Estação forma plateias cinéfilas

Circuito de arte mais prestigiado do Rio (e um dos mais respeitados do país) renova seu compromisso com a cinefilia com sessões de clássicos e projeções de cults à 0h

Por Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Olhar não é pecado, mas perder o mestre Hitchcock, em sessão de 'Janela Indiscreta' no Estação Botafogo, é

Indicado ao Leão de Ouro do Festival de Veneza e a quatro Oscars (entre eles o de Melhor Direção), o suspense "Janela Indiscreta" (1954), de Alfred Hitchcock (1899-1980), será exibido nesta segunda-feira (6), às 21h, no Estação Botafogo, como um abre-alas autoralíssimo para a programação 2025 da sessão Classiquíssimos. O evento, que rola toda segunda, tornou-se uma espécie de curso de cinema em tela grande, alfabetizando os olhares das novíssimas gerações (nascidas na era dos streamings) e renovando a mirada da cinefilia mais cascuda.

Tem uma dobradinha dessa atração de Botafogo com o Estação NET Gávea, onde os clássicos passam às quartas. Lá, o cardápio será aberto neste 8 de janeiro com o francês "A Regra do Jogo" (1939), de Jean Renoir (1894-1979), considerado um dos maiores filmes de todos os tempos pelas mais variadas enquetes da crítica internacional.

A precinhos bem camaradas (R$ 16), o repertório do Classiquíssimos já flanou de Michael Mann ("Fogo Contra Fogo") a Masaki Kobayashi ("Harakiri"), formando plateias. Nas próximas semanas, a grade, entre Botafogo e Gávea, sempre às 21h, inclui "Onde Fica a Casa do Meu Amigo?", de Abbas Kiarostami (dia 13); "O Discreto Charme da Burguesia", de Luis Buñuel (15); "O Sétimo Selo", de Ingmar Bergman (20); "Medéia, a Feiticeira do Amor", de Pier Paolo Pasolini (21); "O Encouraçado Potemkin, de Sergei Eisenstein (27); e "A Dupla Vida de Véronique", de Krzysztof Kieslowski (29).

Aos fins de semana, tem agito audiovisual nas salas do Grupo Estação também, no complexo da Rua Voluntários da Pátria, na sessão Filmes da Meia-Noite. Essa começou no dia 3 (e da mais assustadora forma), com "Possessão" (1981), de Andrzej Zulawski (1940-2016), pelo qual Isabelle Adjani ganhou a láurea de Melhor Interpretação em Cannes. No sábado, na cola do fenômeno "Nosferatu", de Robert Eggers, rolou projeção da pérola expressionista do qual ele se deriva, "Uma Sinfonia do Horror" (1922), de F. W. Murnau (1888-1931). A boa desta grade que vem pela frente é a dobradinha entre a animação "Perfect Blue" (1997), de Satoshi Kon, na sexta, e "A Montanha Sagrada" ("La Montaña Sagrada", 1973), do xamã chileno Alejandro Jodorowsky, no sábado.

No dia 17, às 23h59, o Estação Botafogo marca um encontro de seu público com um marco do giallo, o terror à italiana, numa exibição em telona de "Suspiria" (1977), do mestre supremo do filão: Dario Argento. "Suspeito de que minha filmografia sempre se debruçou sobre forças que invadem vidas alheias, rompendo uma lógica de sanidade, gerando perigo", diz Argento, ao telefone, em papo com o Correio da Manhã. "Terror é escavar as catacumbas da alma. O sobrenatural é o subterrâneo, é o que vive oculto em nós".

A grande dos Filmes da Meia-Noite do Estação segue com "A Tragédia de Belladonna", de Eiichi Yamamoto (18); "Heathers", de Michael Lehmann (24); "Planeta Fantástico", de René Laloux (25); "Eraserhead", de David Lynch (31); e "Submarino Amarelo", de George Dunning (1/2). Novas bossas (leia-se "mostras") do circuito de arte mais prestigiado do Rio serão anunciadas nos próximos dias.