O Brasil no rastro do Urso de Ouro do Festival de Berlim
'O Último Azul', de Gabriel Mascaro, leva o cinema nacional à competição da Berlinale, que tem ainda produção da brasileira RT com o romeno Radu Jude
Vai ter Brasil na competição oficial pelo Urso de Ouro de 2025, na 75ª edição da Berlinale, de 13 a 23 de fevereiro, na capital alemã: "O Último Azul", do pernambucano Gabriel Mascaro, vai levar as paisagens da Amazônia para telas germânicas. Denise Weinberg e Rodrigo Santoro são integrantes do elenco desta distopia. No enredo, o governo brasileiro passa a transferir idosos para uma colônia habitacional para "desfrutarem" seus últimos anos de vida em isolamento. Antes de seu exílio compulsório, Tereza, uma mulher de 77 anos (vivida por Denise), embarca em uma jornada para realizar seu último desejo.
Mascaro despontou internacionalmente ao ser premiado no Festival de Veneza, há uma década, com "Boi Neon" (2015). Passou por Berlim antes, na mostra Panorama, em 2019, com "Divino Amor".
Desta vez, o cineasta vai encarar medalhões como o sul-coreano Hong Sangsoo (no páreo com "What Does that Nature Say to You"), o americano Richard Linklater ("Blue Moon") a francesa e Lucile Had€ihalilovic ("La Tour de Glace") e o mexicano Michel Franco ("Dreams"). Concorre ainda com o romeno Radu Jude, ganhador do Urso dourado de 2021 por "Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental", que compete agora com "Kontinental '25", produzido pela RT Features de Rodrigo Teixeira, do fenômeno de bilheteria "Ainda Estou Aqui", que pode ser anunciado entre os indicados ao Oscar, nesta quinta.
"A seleção de 'O Último Azul' para a competição principal de Berlim só reforça o quanto o Brasil é capaz de produzir um cinema forte, profundo e competitivo", diz o ator Rodrigo Santoro, no release oficial do longa de Mascaro. "É emocionante ver o cinema independente chegando tão longe, feito com garra e talento - muitas vezes, com muito pouco".
A programação desta Berlinale começa com a projeção do drama alemão "Das Licht" ("The Light"), de Tom Tykwer ("Corra, Lola, Corra"), e vai demarcar mudanças estruturais no evento. Chegou ao fim a gestão curatorial de Mariette Rissenbeek e Carlo Chatrian, vigente nas últimas cinco edições, e entra em seu lugar uma nova direção artística, comandada por Tricia Tuttle, que vem do BFI London Film Festival. Ela já prometeu uma seção nova (Perspectivas, dedicada a estreantes) e escalou o divo americano dos filmes indie Todd Haynes (realizador de "Carol" e "Segredos de um Escândalo") para presidir a briga pelos troféus oficiais do ano que vem. Traz consigo a garantia de uma sessão do aguardado "Um Completo Desconhecido", a cinebiografia do cantor, compositor e prêmio Nobel Bob Dylan, dirigida por James Mangold.
Uma das atrações mais esperadas desta Berlinale entra no evento fora de concurso: "Mickey 17", ficção científica que marca o regresso do oscarizado diretor de "Parasita", o sul-coreano Bong Joon Ho à direção, após um hiato de seis anos. Robert Pattinson, o atual Batman, vive um funcionário de uma expedição colonizadora a um planeta distante que é substituído por clones de si mesmo sempre que se desgasta.
Ainda na seara hors-concours, a paulista Anna Muylaert volta à Berlinale, dez anos depois de ter exibido "Que Horas Ela Volta" (2015) por lá, para lançar "A Melhor Mãe Do Mundo" em solo alemão. Com ecos de "A Vida É Bela" (1998), a trama é protagonizada por Gal (Shirley Cruz), uma catadora de materiais recicláveis que luta para escapar da violência do marido Leandro, (Seu Jorge). No empenho para fugir dele, ela coloca seus filhos pequenos em sua carroça e atravessa a cidade de São Paulo. Pelo caminho, enfrenta os perigos das ruas enquanto tenta convencer as crianças, Rihanna e Benin, de que estão vivendo uma aventura em família.
A presença nacional em Berlim este ano estende-se com a participação dos filmes "Hora do Recreio", de Lucia Murat; "A Natureza das Coisas Invisíveis", de Rafaela Camelo; "Ato Noturno", de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon; "Zizi (Ou Oração Da Jaca Fabulosa)", de Felipe M. Bragança; "Cartas do Absurdo", de Gabraz Sanna; "Arame Farpado", de Gustavo de Carvalho; "Entardecer En América", de Matías Rojas Valencia; e "Anba dlo", de Luiza Calagian e Rosa Caldeira. Passa lá ainda uma prévia da série "De Menor", de Caru Alves de Souza. Cult dos anos 1970, a coprodução germânica "Iracema, Uma Transa Amazônica" (1975), com Paulo César Peréio (1940-2024) na estrada, sob a direção de Jorge Bodanzky e Orlando Senna, terá sua cópia restaurada exibida no festival, na seção Forum Expanded.