Ao ouvir o nome do mito parisiense François Truffaut (1932-1984) no encontro com o Correio da Manhã, num hotel alemão, o mexicano Fernando Eimbcke abre um sorriso cúmplice de quem empregou a própria cinefilia com precisão no empenho de criar um balanço geracional com ecos do passado e olhos no futuro. "Olmo", mais recente exercício autoral do realizador de "Temporada de Patos" (2004), ficou fora da competição oficial da Berlinale, mas emplacou bom espaço (e hoje coleciona elogios) na mostra mais popular da maratona audiovisual germânica, chamada de Panorama.
Sempre tem América Latina por lá, vide a presença, este ano, de "Ato Noturno", de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher, do Rio Grande do Sul. Eimbcke figura ao lado desse thriller brasileiro, com uma narrativa que transpira o lirismo truffautiano imagem a imagem, evocando (ainda que inconscientemente o clássico maior do pilar da Nouvelle Vague, "Os Incompreendidos" (1959).
Em 2008, quando "Tropa de Elite" ganhou o Urso de Ouro, Eimbcke estava na Berlinale e saiu dela com o troféu (hoje extinto) de Invenção de Linguagem, além do Prêmio da Crítica, pelo longa "Lake Tahoe". Desta vez, tem tudo para ganhar a láurea do público (por votações em cédulas ao fim das projeções) de "Olmo". Sua trama, produzida pela Plan B de Brad Pitt, ambienta-se em 1979, no Novo México, EUA. Seu protagonista, vivido por Aivan Uttapa, anda preso em casa. Hoje é sua vez de cuidar do pai doente, apesar de ter apenas 14 anos e preferir ficar com seu melhor amigo, Miguel. Quando Olmo é convidado para uma festa por sua bela vizinha Nina, ele fará de tudo para se livrar de suas obrigações, embarcando em uma jornada de travessuras e caos. À medida que a noite se desenrola, ele pode acabar amando o lugar do qual passou tanto tempo tentando fugir: sua casa.
Outro achado deste Panorama foi "Beginnings" ("Begyndelser"), de Jeanette Nordahl, com CEP na Dinamarca. Destaque de "A Garota da Agulha" (hoje na MUBI e no páreo do Oscar), Trine Dyrholm foi premiada pela Berlinale em 2016, por "A Comunidade" e, desde então, filme após filme, ela se impõe como uma estrela de prestígio global, sempre levando a potência dramatúrgica escandinava consigo. Em seu filme mais recente, Trine vive Ane, cujo casamento com Thomas está nos finalmentes, pois ele já tem uma namorada. Depois que ela sofre um derrame, ele decide ficar e tenta reinventar sua relação com a antiga amada.