Falta uma semana para a estreia (na Apple TV) da série "Ladrões de Drogas", novo projeto do baiano Wagner Moura em terras estrangeiras, e, em meio à espera por essa produção com a grife de sir Ridley Scott na produção, um dos trabalhos de maior prestígio do ator volta a gerar cliques no streaming, a reboque do clima de louvor ao cinema brasileiro impulsionado pelo Oscar dado a "Ainda Estou Aqui". Como o sucesso de bilheteria de Walter Salles escancarou a brutalidade da ditadura militar para o mundo, filmes associados ao período em que o país viveu sob o controle dos militares têm atraído novos olhares e gerado debate como é o caso de "Marighella", que marcou a estreia de Wagner como realizador, há seis anos.
A produção está no Globoplay e hoje angaria novos espectadores na base de assinantes da plataforma. O astro tem mais um título ligado aos anos de chumbo por vir, quiçá em maio, no Festival de Cannes: "O Agente Secreto", de Kleber Mendonça Filho. Até lá, a voz do guerrilheiro e poeta Carlos Marighella (1911-1969) ecoa noutras latitudes.
Esse eco nos dá aula de História. Quando "O País de São Saruê" (1971), obra-prima das narrativas documentais, foi vetado pela Censura, sob às ordens do regime golpista instaurado à força em 1964, ele recebeu um rótulo depreciativo: "Este filme fere a dignidade nacional". Essa designação, com o passar do tempo, transformou-se em um elogio, ao julgar quem o emitiu, no caso, uma força fardada que permaneceu 21 anos no Poder, sem pedir licença à nossa democracia.
Essa designação, com o passar do tempo, transformou-se em um elogio, ao julgar quem o emitiu, no caso, uma força fardada que permaneceu 21 anos no Poder, sem pedir licença à nossa democracia. Essa mesma força ganha uma abordagem crítica de "Marighella". Para alguns, ele também "fere" aquilo que se pressupõe "digno" por parte de uma ala avessa à arte da escuta. Continua na página seguinte