Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Fernando Muniz: 'Coproduções internacionais são um bom negócio'

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| Foto: Acervo pessoal

Ao colocar a pedra fundamental no longa-metragem "Última Noite", que começa a ser rodado este mês em Lisboa, Fernando Muniz estreita laços entre sua empresa, a FM Produções, e uma das mais respeitadas usinas de (boa) dramaturgia da Europa, a Fado Filmes. É um casamento de talentos artísticos e equações financeiras que refina a relevância estética (e geopolítica) das coproduções internacionais. Preparando-se para lançar "Filhos do Mangue", que rendeu à cineasta Eliane Caffé o troféu Kikito de Melhor Direção em Gramado, em 2024, Muniz traz em seu currículo uma apoteose da diva espanhola Carmen Maura.

Ela foi estrela de "Veneza" (2019), rodado por Miguel Falabella no Uruguai, que integra seu histórico de projetos como produtor. Participou ainda do único documentário nacional que conquistou o prêmio L'Oeil d'Or do Festival de Cannes: "Cinema Novo", de Eryk Rocha, lançado em 2016.

Agora, radicado em Setúbal, a 40 minutos da capital portuguesa, Muniz batalha com ardor para oferecer ao diretor e roteirista Tiago R. Santos todos os meios para fazer de seu "Última Noite" um longa de requinte. A trama tem tons de thriller e expõe a violência contra as mulheres. No argumento, o jovem escritor americano Andrew (Sebastiano Pigazzi) está às vésperas de regressar a Nova York, quando é confrontado por Sara (Teresa Tavares), uma artista portuguesa que o acusa de um terrível crime.

Na entrevista a seguir, Muniz analisa as potências criativas inerentes o intercâmbio entre filmografias de nações separadas por um oceano, mas unidas pela língua.

Qual é o maior desafio e qual é o maior deleite de se ensaiar uma coprodução internacional tendo o Brasil como parceiro?

Fernando Muniz: Na verdade, a FM Produções, minha empresa no Brasil, é a parceira da Fado Filmes de Portugal. Fui contemplado no Brasil pelo edital de coprodução internacional de 2024 e a FM complementou o financiamento do projeto português

De que forma Portugal passou a ser apresentar como um lar para você e como um espaço de investimento, para coproduções?

Minha escolha de me estabelecer em Portugal foi uma escolha de vida. Elegi Lisboa como a cidade onde quero viver minha terceira idade, pois já estou com 62 anos. Essa decisão tem a haver com qualidade de vida e segurança. A Ancine e o Fundo Setorial do Audiovisual enxergaram finalmente o bom negócio que são as coproduções internacionais e isso reforçou a minha escolha e me deu os meios financeiros para empreender em Portugal.

O que mais te fascinou na proposta estética de Tiago R. Santos, roteirista e diretor de "Última Noite"?

Tiago é um brilhante roteirista. O roteiro é o ponto de partida de todo projeto, segundo meu entendimento. Escolhemos as histórias com as quais nos identificamos, pelo aspecto humano, por sua relevância e por sua força. Em a "Última Noite" nos deparamos com questões profundas e nossa abordagem irá reforçar essa densidade. O conflito dos protagonistas, nessa história, que se passa em uma única noite, praticamente em um apartamento no centro de Lisboa, é um campo fértil para a realização de uma proposta estética ousada e diferenciada

De que forma projetos como "Veneza" e "Cinema Novo" (premiado em Cannes) preparam seu know-how sobre internacionalização da produção audiovisual?

Os dois projetos me levaram a frequentar os mercados internacionais, a conhecer players de relevo e a conhecer os selecionadores de muitos festivais. Digamos que muitas portas me foram abertas pelo reconhecimento internacional desses filmes.

Onde e como nasce seu fascínio com o cinema?

Sou ator de formação. Nos anos 1980, atuei no Rio de Janeiro e, apesar de amar o Teatro, sempre tive o fascínio pelo cinema. Quando eu era adolescente, ia assistir Fellini, Pasolini, Truffault, Bergman em sessões à tarde, quase sempre em salas vazias. Não me importava com isso. Fui totalmente atraído desde cedo pelo cinema de autor.

Começou a fazer cinema quando e onde?

Nasci e cresci no Rio, até ir tentar a carreira de cantor de ópera na Itália, onde vivi por 20 anos. Ao voltar para o Brasil, reencontrei meus velhos amigos do teatro, que me convenceram de que eu tinha o perfil de produtor. Não sei se fiz bem, creio que sim: acreditei naqueles amigos e comecei a produzir e distribuir filmes.