Adelicadeza da realizadora em pensar a resiliência feminina - galvanizada por uma sucessão de trabalhos como autora de novelas na TV Globo - dá o tom de "Câncer Com Ascendente Em Virgem". O roteiro, feito à seis mãos, é assinado pela própria Suzana Pires, em parceria com Martha Mendonça e Pedro Reinato.
No enredo, Clara (Pires) é uma professora de matemática badalada na web por seu trabalho como influencer educacional em seu canal na internet. De bem com a vida, ela gosta de manter tudo sob controle, mas vai precisar aprender a lidar com a vulnerabilidade e o imprevisível quando se descobre doente. Encara uma quimioterapia, enfrenta perdas súbitas e bate de frente com o medo. Cada etapa do caminho é um novo aprendizado. No processo, Rosane também adquiriu novos saberes acerca da maneira de representar relações afetivas em abismos. Rodou até outro longa depois dele, ainda inédito: "(Des)Controle", com Carolina Dieckmann, Ireve Ravache e Daniel Filho.
Responsável por um dos maiores fenômenos da teledramaturgia brasileira nesta década (o folhetim das sete da TV Globo "Vai na Fé"), Rosane ocupa streamings em diferentes vias. De certa forma, o tema da luta pela vida, em foco em "Câncer Com Ascendente Em Virgem", já era notável em seu longa anterior, "Pluft, o Fantasminha", de 2022. O assunto ali era tratado pelas vias lúdicas da fantasia, inspirada por um marco homônimo do teatro infantojuvenil, assinado por Maria Clara Machado (1921-2001). É possível vê-lo hoje no Globoplay e na Prime Video.
Na Netflix, encontra-se uma joiazinha dirigida por Rosane sobre as agruras do verbo adolescer: "Desenrola" (2010). Nele, Olívia Torres interpreta Priscila, estudante que aproveita a ausência dos pais para eliminar caretices de sua vida. Perder a virgindade é uma de suas angústias, ainda que esse processo exija um baita amadurecimento sentimental.
Na Amazon Prime, é possível comprar ou alugar "Tainá, A Origem" (2013), com Wiranu Tembé no papel central. É um episódio extra da franquia ecológica que movimentou nosso cinema nos anos 1990 e 2000, a partir de uma heroína indígena, em meio aos encantos da Amazônia.
No YouTube e na AppleTV há como encontrar o debute de Rosane nos longas: "Como Ser Solteiro" (1998). Na produção, um malandro carioca cheio de suingue (Heitor Martinez) ensina um jornalista inseguro como só os meninos de óculos são (papel de Ernesto Piccolo) como arrancar sorrisos de ninfas. Até Pedro Bial faz participação no elenco.
No Porta Curtas, encontra-se Rosane em pílulas, Lá tem "O Cabeça de Copacabana" (2010), uma comédia de 16 minutos com Hugo Carvana (1937-2014) em estado de graça. Por ali se vê ainda "Suspiros Republicanos ao Crepúsculo de um Império Tropical" (2002), rodado em duo com José Lavigne, com o mítico dramaturgo e diretor Domingos Oliveira (1935-2019) na trupe.
Quem quiser ver as novelas das sete de Rosane e Paulo Halm encontra "Bom Sucesso" (2019) e "Totalmente Demais" (2015) no Globoplay. A dupla edificou ricas crônicas de costume.
O que falta é o cinema deste país abrir uma telona para exibir um dos melhores filmes da realizadora: uma brincadeira à la "Harry & Sally" chamada "Mais Uma Vez Amor", que sopra 20 velinhas de aniversário em 2025. Merecia uma sessão com debate lá no Estação Botafogo.