Na flor dos 25 aninhos, orgulhosa de ter feito itinerância por 151 cidades em cinco continentes de 2000 até hoje, a Monstra, nome do Festival de Animação de Lisboa, fecha a edição de 2025 no domingo compromissada com a multiplicidade (de estéticas, temas e pautas identitárias) e com a produção feita à margem dos conglomerados industriais do audiovisual, sem deixar o Brasil de fora. "Pária", dirigido por Daniel Bruso e produzido pela Solstício Filmes, integra a seleção competitiva do evento luso. Sua trama celebra a resiliência feminina: rodeada por um grupo violento, uma jovem aproxima-se de uma menina enquanto confronta um homem que a obriga a lutar por seu lugar no mundo.
Em múltiplas latitudes da programação arquitetada sob a direção artística de Fernando Galrito, encontra-se a língua portuguesa, mas falada pela prata (animada) da casa, ou seja, de cineastas da terrinha. É o caso de "Amanhã Não Dão Chuva", de Maria Trigo Teixeira, e "A Menina Com Os Olhos Ocupados", de André Carrilho.
"Desde 2000, a Monstra tem como grande objetivo celebrar a transversalidade artística, promover o encontro entre pessoas de diferentes artes e transmitir novos olhares estéticos, usando como base a linguagem mais pluridisciplinar que conhecemos: o cinema de animação", escreve Galrito, no site do evento, que mobiliza diferentes espaços de exibição.
Na seara dos longas, a Monstra assegurou para a sua programação a pérola francesa "Slocum et Moi", longa do francês Jean-François Laguionie, ambientado nos anos 1950. Do Japão (terra do animê), Galrito buscou "As Cores Iteriores", de Naoko Yamada, um desenho sobre bandas em ascensão e hormônios à flor da pele. Da Suíça, a atração mais esperada é "Selvagens", de Claude Barras, consagrado com "Minha Vida De Abobrinha" (2016). Seu novo trabalho, que estreou no Festival de Locarno, em agosto passado, é definido como um stop-motion antropológico sobre ranços coloniais. Há traços helvéticos também no poema em 3D "O Caminho das Sombras", de Yves Netzhammer, que passa nesta sexta no místico Cine São Jorge. Nuestros hermanos de Argentina entram nessa festa com "Dália e o Livro Mágico", de David Bisbano, feito em coprodução com a Colômbia.
Sem deixar o passado para escanteio, a equipe de Galrito resgatou um tesouro do animador lituano Wladyslaw Starewicz (1882-1965), rodado em duo com sua filha, Irene: "O Romance da Raposa", de 1937. O uso de marionetes e bonecos com revestimento de couro impressiona a cada nova exibição dessa fábula antropomórfica. No enredo, o Mestre Raposa está habituado a enganar e iludir todos à sua volta, mas o Rei Leão quer a cabeça desse animal picareta. Vai ter projeção dele nesta sexta, na Cinemateca Portuguesa.
Num intuito de mapear a animação do Velho Mundo, a Monstra preparou uma retrospectiva do cinema austríaco com foco em animadoras/es egressos. Neste fim de semana, o pacotão Áustria inclui produções como "Maria", de Leonie Bramberger; "Trilogy of Living", de Anna Vasof; "If We Only Had Tried", de Reinhold Bidner; "Lucid", de Celine Pahm; "Mystery Music", de Nicolas Mahler; e "Late Season", de Daniela Leitner.
Para o desfecho de seu corpo a corpo com o público, a Monstra escalou "Kubo e As Cordas Mágicas", aventura pilotada por Travis Knight para o estúdio Laika Entertainment, que ganha um painel todo seu em Portugal.