Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Marcos Veras: 'O humor erra também, mas ele mais acerta'

Marcos Veras, ator | Foto: Priscila Prade/Divulgação

Com projeto de longa-metragem prestes a ser filmado em Santa Catarina e dois filmes inéditos para tirar do forno, Marcos Veras pavimentou seu prestígio multimídia pelas vias do riso, jamais abandonou a arte da gargalhada, mas mostrou, faz tempo, que joga nas onze quando se pensa na multiplicidade dos gêneros narrativos. Até segurar debates comportamentais no programa "Encontro", o matinal da TV Globo, ele segurou - e firme - numa parceria com a jornalista Fátima Bernardes, hoje empenhada em outros voos. Fez drama (com brio) ao protagonizar "O Filho Eterno" (2016), de Paulo Machline, e testou seu carisma em novelas de diferentes faixas de horário. Sua multiplicidade de modos de estar (e de surpreender) foi coroada recentemente com o Prêmio Prio do Humor, por seu desempenho na peça "Insignificância - Uma Comédia Relativa", que se despede do Rio neste fim de semana.

Ao lado de Amanda Acosta, Cássio Scapin e Norival Rizzo, sob a direção de Victor Garcia Peralta, Veras segue no palco do Teatro Adolpho Bloch, na Glória, até domingo, interpretando o ídolo do beisebol Joe DiMaggio (1914-1999). A dramaturgia de Terry Johnson propõe um encontro imaginário entre uma série de personalidades do século XX, passeando pelo esporte, o cinema, a ciência e a política.

No papo a seguir, o ator fala dos desafios de ser cronista de seu tempo em manifestações artísticas diferentes, numa troca sincera com o público.

De que maneira a experiência de dar conta de figuras icônicas como o craque do beisebol Joe DiMaggio (entre Marilyn Monroe e Albert Einstein), em "Insignificância", de Terry Johnson, amplia sua imersão na história do século 20 e no simbolismo daquela Era de Extremos?

Marcos Veras: O século 20 foi marcado por grandes revoluções sociais, tecnológicas, guerras... e a gente vem presenciando isso até hoje — claro que em outras proporções. Usar essas figuras icônicas, esses personagens reais, para fazer um paralelo com os dias de hoje não foi tarefa fácil, mas, no decorrer dos ensaios, fomos percebendo que avançamos em muitos aspectos... e em outros não. As guerras continuam. O uso do poder para interesses próprios, o patriarcado, a fama... tudo isso pode ser facilmente traduzido pros dias de hoje, tornando a peça super atual.

Quais são seus projetos de cinema e TV para 2025/2026 e de que maneira as recorrentes experiências teatrais no seu currículo afiam teu olhar para as câmeras?

O teatro é a casa do ator. É lá onde somos mais donos do nosso trabalho, onde exercitamos a arte em sua plenitude. Venho fazendo projetos legais nos palcos. Emendei três peças completamente diferentes. Um musical da Broadway, o "Alguma Coisa Podre", que foi super premiado aqui no Brasil; meu solo de humor autobiográfico, chamado "Vocês Foram Maravilhosos", que continua viajando o país; e, agora, o "Insignificância". Claro que essas experiências me alimentam para o meu trabalho na TV. Eu amo fazer televisão, ela me completa como artista e faz meu trabalho chegar a mais e mais pessoas. O cinema é algo por que sou apaixonado. Agora filmo em Florianópolis. Farei um terrir chamado "Sangue De Groselha", com Natália Lage e Nuno Leal Maia, com direção de Marko Martinz e Loli Menezes. Ainda nesse ano, lanço "Vudu Delivery", de Alain Fresnot, também com Natália Lage e Silvero Pereira. No início de 2026, deve chegar aos cinemas "O Shaolin do Sertão 2", de Halder Gomes.

Você criou uma forma de fazer rir muito particular, crítica, pautada pela sua habilidade de criar crônicas de costumes a cada reflexão sobre o dia a dia. De que maneira o teu humor lida com as exigências contemporâneas impostas à comédia?

A comédia é também uma crônica do cotidiano. Escrever e fazer requer um olhar atento pro mundo ao seu redor, pro comportamento da sociedade, e para as pautas. O humor sempre acompanhou os avanços. Claro que o humor erra também, mas ele mais acerta. É a arte mais rica e nobre que temos.

Que tipo de comédia você tenta criar hoje? Como ir além do gênero?

Acho que meu humor já passeou por muitos lugares. Já fiz o "Zorra Total", que era um humor mais caricato, clássico, de personagem, da peruca, da voz; já fiz o "Porta dos Fundos", que é um humor mais do cotidiano; já fiz imitação... Sinto que meu humor é plural. Porém, o que mais vem me atraindo é a comédia que critica, faz pensar, e emociona sem deixar o riso de lado. Um humor que possa chegar ao maior número de pessoas possível. Adoro fazer rir e emocionar num mesmo trabalho.

Lá se vão dez anos das filmagens de "O Filho Eterno". O que aquele projeto, um drama baseado no romance de Cristóvão Tezza, representou na sua carreira?

Sendo bem clichê?! Um divisor de águas. Ali pude mostrar às pessoas e ao mercado que sou ator além de comediante. Um trabalho sensível com um tema importante. Um filme que me trouxe muito aprendizado e muitas oportunidades na carreira.