Por: Por Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Tem Brasil na disputa de Cannes

Wagner Moura protagoniza 'O Agente Secreto' | Foto: Divulgação

Seis anos depois da consagração internacional de “Bacurau”, o diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho vai voltar ao Festival de Cannes - de onde saiu com o Prêmio do Júri, em 2019 - para concorrer (pela terceira vez em sua carreira) à Palma de Ouro, agora com o thriller “O Agente Secreto”. Seu novo filme, ambientado no Brasil de 1977, tem como seu protagonista o eterno Capitão Nascimento, o baiano Wagner Moura. O astro de “Narcos” encarna Marcelo, um especialista em tecnologia que foge de um passado misterioso e volta ao Recife em busca de paz. Ele logo percebe que a cidade está longe de ser o refúgio que procura.

Ao lado de Wagner estão Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Hermila Guedes, Thomás Aquino, Alice Carvalho, Edilson Filho e o alemão Udo Kier. O filme é uma coprodução Brasil (CinemaScópio Produções), França (MK Productions), Holanda (Lemming) e Alemanha (One Two Films) e terá distribuição no Brasil da Vitrine Filmes. Cannes, que abre sua programação no dia 13 de maio, com uma sessão de “Partir Un Jour”, de Amélie Bonnin, aina não divulgou as datas em que o longa de Kleber terá exibições no Palais des Festivals, para o júri presidido pela atriz francesa Juliette Binoche.

“Eu poderia falar de Cannes como se estivesse falando dos meus anos na universidade ou como se falasse de um grande amigo de 30 anos que continua fazendo parte da minha vida. Estive lá pela primeira vez em 1999, como repórter, numa época em que investia na cinefilia de forma remunerada, como crítico. Lembro de ter visto ‘Uma História Real’, de David Lynch, às oito e meia da manhã e de ir para uma coletiva com ele, que já fazia parte da minha vida e da minha formação há tanto tempo”, lembra o diretor, em entrevista ao Correio da Manhã. “Venho tendo experiências felizes fazendo meus filmes. O Wagner, uma grande pessoa e um grande artista, virou um amigo. Pena que moremos em países diferentes, o que impede de nos vermos pessoalmente mais. Vamos nos encontrar agora em Cannes”.

“Esse filme é resultado de um desejo grande de continuar filmando o Brasil e o Recife, desta vez no contexto histórico do mundo de 50 anos atrás, de um Brasil do passado”, disse Kleber Mendonça Filho, por meio de sua assessoria de imprensa. “Eu também tinha vontade de fazer um filme de mistério e de suspense, em que o Recife fosse o cenário principal. Eu era criança nos anos 1970, mas me lembro com alguma clareza do ano de 1977, quando eu tinha nove anos. Creio que 77 foi o primeiro ano que me marcou ainda como criança. Naquela época, o Brasil era muito diferente, mas, de certa forma, também muito parecido com o de hoje”.

Kleber passou por Cannes com o curta “Vinil Verde”, em 2004, numa época em que cobria o festival como repórter e crítico, travando entrevistas com titãs da realização. Depois do êxito global de seu longa de estreia, “O Som ao Redor” (coroado com 39 láureas internacionalmente, a partir da conquista do Prêmio da Crítica no Festival de Roterdã, em 2012), o cineasta brigou pela Palma de Ouro de 2016, com “Aquarius”.

Na ocasião, atraiu holofotes para o Brasil ao abrir o jogo sobre o golpe de estado que ocorria em solo nacional com o Impeachment de Dilma Rousseff. Ele, sua equipe e seu elenco (encabeçado por Sonia Braga) passaram pelo tapete vermelho da Croisette com cartazes em folhas de A4 expondo o avanço da extrema direita.

Três anos depois, concorreu com “Bacurau”, que dirige em dupla com Juliano Dornelles. Foi jurado no festival em 2021 e retornou em 2023, para exibir o .doc “Retratos Fantasmas”, que disputou o troféu L’Oeil d’Or.

Em 2025, ele vai encarar signos de autoralidade como os irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne (da Bélgica), Kelly Reichardt (dos EUA) e Joachim Trier (da Noruega). Curiosamente todas essas vozes autorais já operaram nos júris da Croisette em edições passadas. Como esperado, Wes Anderson estará no páreo com “O Esquema Fenício”, que promete bombar nas bilheterias, com Tom Hanks, Benicio Del Toro e Bryan Cranston (o Walter White da série “Breaking Bad”), neste momento em que seu diretor é tema de uma megaexposição de sua arte na Cinemateca Francesa, em Paris. Surpreende a ausência do esperado “One Battle After Another”, de Paul Thomas Anderson, mas causa ainda mais surpresa (e das boas) a farta variedade de novos talentos que se espalham pelo certame da Palma dourada, como a japonesa Chie Hayakawa e os espanhóis Carla Simón e Oliver Lax. A França, prata da casa, conta com a força de Julia Ducournau (lareada pelo próprio Kleber, há quatro anos, por “Titane”) para abocanhar troféus com “Alpha”, que conta com o talento de Tahar Rahim em sua trupe de estrelas.

Até seu encerramento, no dia 24 de maio, Cannes vai conferir um desfile de investigações estéticas das mais variadas fontes, entre elas a estreia da atriz Scarlett Johansson como diretora de longas: “Eleanor The Great”. A estrela, que também aparece em “O Esquema Fenício”, vai concorrer na mostra paralela Un Certain Regard.

Nesta edição de nº 78, Cannes conta com Laurent Laffite como seu mestre de cerimônias. Robert De Niro ganha a Palma de Ouro Honorário e Tom Cruise assume para si a cota anual dos blockbusters hollywoodianos com “Acerto Final”, que pode ser o canto de cisne da franquia “Missão: Impossível”, aberta em 1996. Novos filmes serão anunciados pelas sessões paralelas do evento nos próximos 20 dias.


As atrações de Cannes em 2025

FILME DE ABERTURA

“Partir Um Jour” (“Leave One Day”), Amélie Bonnin

 

COMPETIÇÃO 

  • “O Agente Secreto,” Kleber Mendonça Filho
  • “Sentimental Value,” Joachim Trier
  • “Romeria,” Carla Simon
  • “Sound of Falling,” Mascha Schilinski
  • “The Eagles of the Republic,” Tarik Saleh
  • “The Mastermind,” Kelly Reichardt
  • “Dossier 137,” Dominik Moll
  • “Fuori,” Mario Martone
  • “Two Prosecutors,” Sergei Loznitsa
  • “Nouvelle Vague,” Richard Linklater
  • “Sirat,” Oliver Laxe
  • “La Petite Derniere,” Hafsia Herzi
  • “The History of Sound,” Oliver Hermanus
  • “Renoir,” Chie Hayakawa
  • “Alpha,” Julia Ducournau
  • “Young Mothers,” Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne
  • “Eddington,” Ari Aster
  • “O Esquema Fenício” (“The Phoenician Scheme”), Wes Anderson
  • "It Was Just an Accident", Jafar Panahi


UN CERTAIN REGARD

  • “Meteors”, Hunert Charuel
  • “My Father’s Shadow,” Akinola Davies Jr.
  • “Urchin,” Harris Dickinson
  • “L’inconnue de la Grande Arche,” Stephane Demoustier
  • “Eleanor the Great,” Scarlett Johansson
  • “A Pale View of the Hills,” Kei Ishikawa
  • “Pillion,” Harry Lighton
  • “Aicha Can’t Fly Away,” Morad Mostafa
  • “Once Upon a Time in Gaza,” Tarzan and Arab Nasser
  • “Heads or Tails?,” Alessio Rigo de Righi and Matteo Zoppis
  • “The Mysterious Gaze of the Flamingo,” Diego Céspedes

 

FORA DE COMPETIÇÃO

  • ”Missão: Impossível - O Acerto Final” (“Mission: Impossible — The Final Reckoning”), Christopher McQuarrie
  • “The Coming of the Future,” Cedric Klapisch
  • “The Richest Woman in the World,” Thierry Klifa
  • “Vie Privée,” Rebecca Zlotowski