Colosso audiovisual de CEP portenho, encarado como a maior produção da Argentina em 2025, a série da Netflix "O Eternauta", baseada na cultuada HQ dos anos 1950 de Héctor Germán Oesterheld e Francisco Solano López, estreia no dia 30 de abril com o divo Ricardo Darín como protagonista e um outro muso, que amplia o seu prestígio global filme após filme, ao lado dele: Marcelo Subiotto. No fim de semana, o filme que ganhou o prêmio de Melhor Curta-metragem e ainda o de Melhor Direção no 26º Bafici - Festival de Buenos Aires, a comédia "El Banner", é estrelada por ele.
Seu rosto foi visto ainda em "Puan", um dos maiores sucessos recentes de nuestros hermanos, condecorado com o prêmio de Melhor Roteiro na Espanha, no Festival de San Sebastián. Aliás, esse hilário longa-metragem sobre a realidade universitária pública nas Américas saiu do evento espanhol com o troféu de Melhor Interpretação, dado a... Subiotto.
"Venho de um país muito grande e uma parte dele está retratada nos filmes que fazemos", disse o ator de 58 anos ao Correio da Manhã na Alemanha, durante a última Berlinale, antes do carnaval, onde brilhou nas telonas germânicas com "El Mensaje". "É um filme envolvo em mistério", definiu o astro.
Coroado com o Prêmio do Júri em Berlim, "El Mensaje" chegou à competição pelo Urso de Ouro como um tapa na cara do presidente argentino Javier Milei (e sua presidência de tons conservadores, avessa a pautas identitárias) ao propor um novo arranjo familiar na estrutura narrativa meticulosa do cineasta Iván Fund. Ele dá a Subiotto um papel que descontrói o machismo estrutural latino, e amplia o prestígio de seu intérprete, hoje encarado pela crítica da Pangeia latina como um novo Darín, tão talentoso e tão carismático como o protagonista de "O Segredo de Seus Olhos" (2009) e de "O Filho da Noiva" (2001).
"Na crise por que nós passamos, a arte exerceu um papel luminoso de reflexão. Como ator, o que tento fazer nessa história é seguir a minha vocação e tentar me conhecer mais, da melhor forma possível", disse Subiotto, antes de cair no set de "El Mensaje", então envolvido com "O Eternauta", que tem o uruguaio Cesar Charlone (de "O Banheiro do Papa") no elenco.
No roteiro filmado em preto e branco por Iván Fund, uma criança em fase de dentes de leite revela a capacidade de se comunicar com bichos, inclusive aqueles que estão na fronteira entre a vida e a morte. Um dos tutores da menina, Roger (papel de Subiotto) cuida dela como um tesouro, por razões sentimentais e profissionais. Roger agencia as consultas que a guria dá para quem anseia por contato com finados animaizinhos.
"Muito do que se vê no filme retrata diferentes províncias", diz Subiotto.
Em "El Banner", ele vive um Rafael, um dono de uma antiga editora que está prestes a firmar um acordo numa cerimônia importante. Para que a tal celebração aconteça, ele precisa de um cartaz, e vai atravessar sua cidade numa correria louca para isso. Paralelamente, prepara um discurso que evoca as palavras de uma estrela de Hollywood na entrega do Globo de Ouro.
No fim do mês, o ator entra em cena em "O Eternauta", cuja argamassa vem do quadrinho lançado de 1957 a 1959 no suplemento "Hora Cero Semanal". Sua relevância vai além de sua inequívoca potência visual e de sua dramaturgia sociológica, de prosa com a literatura H.G. Wells (1866-1946). Uma tragédia (cujo bastidor aponta suspeitas de vetores governamentais) em torno do já citado roteirista Héctor Germán Oesterheld, criador da trama, amplia a importância da HQ. Nascido em 1919, ele desapareceu em abril de 1977, em meio a uma reunião de militantes de esquerda, como reação da ditadura aos antipatizantes do regime militar na Argentina. Suas quatro filhas caíram na clandestinidade e acabaram assassinadas. Duas delas estavam grávidas quando foram mortas. O "sumiço" de Oesterheld teria ocorrido pouco depois de ele publicar a parte II das missões do Eternauta, lançada em 1976, pela Ediciones Record.
Foi um estudo sobre os ranços ditatoriais das Américas que ganhou o Grande Prêmio do Bafici na competição internacional. Coroado com o Prêmio da Crítica dado pela Federação de Imprensa Cinematográfica (Fipresci) na Berlinale, "Bajo Las Banderas, El Sol", de Juanjo Pereira, venceu a disputa mais acirrada do festival argentino no sábado. Na mesma competição, o Brasil levou o prêmio de Melhor Curta-metragem com "Minha Mãe É Uma Vaca", de Moara Passoni.
Projetado no Rio em em São Paulo no recém-finalizado festival É Tudo Verdade, o longa de Juanjo arrebatou elogios em terras portenhas, assim como no Brasil, onde acaba de ter sessões no É Tudo Verdade. É a produção paraguaia de maior êxito em maratonas cinéfilas estrangeiras depois da consagração de "As Herdeiras" (2018). Esse documentário é um mosaico de exuberante montagem. Sua estrutura formal é uma reação à recordações latinas de 1989, ano da queda da ditadura de 35 anos de Alfredo Stroessner. Sua saída do Poder marcou o fim de um dos regimes autoritários mais duradouros do mundo. Isso também levou ao abandono dos arquivos audiovisuais que haviam consolidado seu comando. Esse material, criado para moldar uma identidade nacional e celebrar um regime de direita, foi deixado para desaparecer da memória. Juanjo esforçou-se para evitar esse destino.