Por: Affonso Nunes

Triunfo brasileiro no front iberoamericano

Fernanda Torres conquistou corações e mentes no Brasil e exterior em 'Ainda Estou Aqui'. Sua atuação arrebatadora no longa de Walter Salles foi reconhecida com mais um prêmio, desta vez em Madri | Foto: Alile Dala Onawale/Divulgação

Desde sua estreia, "Ainda Estou Aqui" vem traçando uma trajetória rara e brilhante para o cinema brasileiro no cenário internacional. O filme, dirigido por Walter Salles, estreou há pouco mais de um ano em um dos mais prestigiados festivais de cinema do mundo, conquistando a crítica e o público com sua sensibilidade e força narrativa. A partir dali, iniciou uma caminhada que culminaria, meses depois, na vitória histórica no Oscar de Filme Internacional — uma conquista inédita para o Brasil.

Agora, "Ainda Estou Aqui" acrescenta mais um capítulo memorável à sua história. Neste domingo, na 12ª edição do Prêmio Platino, em Madri, a produção foi novamente celebrada, reforçando seu lugar como um marco da cinematografia ibero-americana. Considerado o prêmio mais importante para filmes e séries da América Latina, Espanha e Portugal, o Platino consagrou "Ainda Estou Aqui" em três das suas categorias principais: melhor filme, melhor direção para Walter Salles e melhor atriz para Fernanda Torres, pela interpretação arrebatadora de Eunice Paiva.

A cerimônia teve a atriz Valentina Herszage, intérprete de Vera Paiva no longa, e o produtor Rodrigo Teixeira representando Fernanda Torres e Walter Salles, que não puderam comparecer. O reconhecimento se deu em meio a uma concorrência de peso: "Ainda Estou Aqui" disputava com cineastas como Pedro Almodóvar, de "O Quarto ao Lado"; Arantxa Echevarría, de "La Infiltrada"; e Luis Ortega, de "El Jockey".

Antes de brilhar no Prêmio Platino, o filme já havia acumulado uma impressionante coleção de prêmios em festivais internacionais como Veneza, Berlim e Toronto, passando por eventos importantes dos Estados Unidos e América Latina, "Ainda Estou Aqui" arrebatou júris e plateias com sua abordagem delicada e poderosa sobre a memória, a resistência e a luta por justiça ao narrar a saga da advogada e ativista Eunice Paiva em sua batalha para que o Estado brasileiro reconhecesse o assassinato de seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva, pela ditadura militar.

A presença constante do longa entre os finalistas e premiados consolidou Walter Salles como como uma das grandes vozes autorais do cinema contemporâneo, destacando a força da produção brasileira no cenário mundial.

O filme também foi reconhecido pela Academia Brasileira de Cinema. A extraordinária trajetória do filme levou a diretoria da Academia a decidir oferecer ao longa o Prêmio Especial Grande Otelo 2025. A cerimônia de entrega está marcada para o dia 30 de julho, na Cidade das Artes. O prêmio seria entregue a Walter Salles e Fernanda Torres, em nome de toda a equipe. No entanto, para que isso acontecesse, seria necessário retirar o filme da competição e alçá-lo à categoria "hors concours".

No entento, os produtores de "Ainda Estou Aqui" solicitaram que o longa permanecesse na disputa. Em respeito ao desejo dos produtores, a Academia Brasileira de Cinema recolocou o filme em todas as categorias por eles inscritas e retirou a homenagem especial.

Além da vitória de "Ainda Estou Aqui", o Brasil também se destacou no Prêmio Platino com "Senna", eleito na categoria de melhor criação de série. Os criadores Vicente Amorim, Fernando Coimbra, Luiz Bolognesi e Patrícia Andrade levaram a estatueta, confirmando o bom momento da ficção nacional. "Senna" concorria em quatro categorias, incluindo melhor minissérie, em que competia com outra produção brasileira, "Cidade de Deus: A Luta não Para". O prêmio, no entanto, ficou com a colombiana "Cem Anos de Solidão".