Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

Meu corpo, minhas regras

| Foto: Divulgação

Da street dance Thiago Soares chegou ao posto de primeiro bailarino do Royal Ballet de Londres, um dos mais importantes ensembles do mundo. E o artista está no Rio com "Último Ato", sua última turnê internacional, em cartaz no Teatro Casa Grande.

Thiago abre o espetáculo falando de como construiu sua carreira, chegando à condição de solista dos mais importantes números do repertório de dança. Foi ainda o primeiro estrangeiro a dançar no Teatro Mariinsky (antigo Kirov), em São Petesburgo (Rússia), um dos palcos mais importantes do mundo da dança. Com apresentações em mais de 30 países, Thiago é um talento único nas artes performáticas, pois seu corpo, mãos, braços, pernas, expressam todas as histórias e os mais variados sentimentos.

Nesse novo passo, Thiago se liberta das coreografias famosas, das imposições da companhia, mesmo que essa seja importante, e alcança o patamar de um artista que é capaz de usar, sob a própria orientação, o que deseja. E "Último Ato" é justamente o primeiro nesse caminho do artista em busca de si mesmo. Meu corpo, minhas regras.

Diferente de tudo já feito na sua carreira, "Último Ato" é um espetáculo teatral no qual a linguagem utilizada é a dança. "Normalmente espetáculos de Ballet onde chamo estrelas da dança, acabam tornando-se uma versão similar e mais sucinta das apresentações dos grandes teatros. O 'Último Ato' é completamente diferente", compara.

"Nesse espetáculo temos artistas brasileiros, com origem no samba, na dança urbana, até mesmo no parkour. É uma coletânea de informações de movimento que transcende o clássico, ainda sendo um espetáculo de ballet clássico", acrescenta o bailarino sobre a apresentação que terá cerca de uma hora e meia e incluirá traços inéditos, como uma coda de afrobeat.

Dois pilares sustentam o impactante espetáculo. A nossa latinidade, pois o número de abertura e o tango e o término se faz um um medley de nossos ritmos populares: samba, break, hip-hop, funk. O outro é o pas-de-deux, a mais difícil coreografia, pois dois corpos tem que expressar os mesmos sentimentos, em um fusão única de dois corpos.

O espetáculo conta com Letícia Dias, solista no Royal Ballet de Londres, Jaime Bernardes, Tairine Barbosa e Hélio Cavalckanti. A coreógrafa e bailarina Tairine Barbosa, descoberta por Thiago há alguns anos atrás no carnaval carioca, fará par com o artista em diversas cenas, trazendo justamente a sombra da reflexão.

Além disso, inovando em cena, a apresentação tem forte interação com o público. "Dessa vez, o público irá decidir o final", revela Thiago, mas sem spoiler. Além disso, ao longo da apresentação diversas mudanças de perspectiva no cenário inserem ainda mais o espectador na história.

Entre os destaques, a tão utilizada barra, que torna-se quase um personagem do ato, sendo a cruz, a amiga e a sina do Primeiro Bailarino. O lugar para onde ele sempre volta. "Revisitei o meu passado e busquei referências da minha trajetória para incluir nessa nova linguagem. É um espetáculo que convida o público a uma reflexão, sem dúvidas".

Uma dança com o sol, um tango com o espírito da pressa em apagar uma estrela para o nascimento de uma nova e o questionamento sobre o peso do tempo e da idade sobre a arte. "Onde um bailarino de 40 anos deveria estar? Existe uma ideia que uma vez que você está nos 40 e deixa de fazer grandes papéis, você morreu. O espetáculo mostra que você pode ir além. Uma desconstrução."

"Os lugares que já passei, dos viadutos de Madureira até os mais de 30 países através da dança, criaram em mim um liquidificador de arte que eu quero derramar nessa turnê. É uma miscelânea cultural, uma síntese do lixo ao luxo", afirma Soares. É dessa mistura de gente, culturas, músicas, que Thiago constrói algo única na cena do ballet. Um grande artista, único, incomparável é capaz de construir por si próprio o melhor da arte.

SERVIÇO

THIAGO SOARES - ÚLTIMO ATO

Teatro Casa Grande (Av. Afrânio de Melo Franco, 290 - Leblon) | Até 24/3, quinta a sábado (20h) e domingo (19h)

Ingressos a partir de R$ 150

 

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