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Seres mitológicos revisitados

Espetáculo visita personagens da mitologia greco-romana, híbridos entre humano e animais, recriados a partir de elementos do flamenco, da dança contemporânea e do teatro | Foto: Farley José/Divulgação

Uma sereia, uma harpia, um fauno e uma medusa. Essas figuras mitológicas são ponto de partida para "Sirena", mais novo solo de dança da bailarina capixaba Ivna Messina que está em cartaz até domingo (24) na Sala Multiuso do Sesc Copacabana.

Dirigido por Alexsandra Bertoli, o espetáculo tem como eixo o hibridismo presente em seres da mitologia greco-romana que são parte humanos e parte animais, mesclando-se ao flamenco - arte a que Ivna se dedica há 22 anos -, à dança contemporânea, ao teatro e a uma trilha sonora especialmente composta para o trabalho, com direção musical de Letícia Malvares.

Ivna Messina pesquisa a relação entre o flamenco e outras expressões artísticas. Com esse foco, criou, em 2012, o projeto "Isso não é flamenco", em que convida outros artistas, de diferentes áreas, para experimentar esse atravessamento de linguagens. Terceiro solo da artista, "Sirena" também segue por essa linha, ainda que seja bem diferente de seus trabalhos anteriores, "Bom sujeito" (2016), com direção de Fernando Marques, e "Pedra" (2018), direção de Carla van den Bergen.

"Trago a experiência do corpo flamenco e da lida com esses elementos e gestualidade, que é muito marcada e expressiva com as linhas, o trabalho de mãos, os giros... e essa técnica é utilizada majoritariamente de maneira não tradicional no meu trabalho", explica Ivna.

"O flamenco, portanto, está presente como técnica e matéria, mas ele não é utilizado de maneira tradicional; então, junto a isso, temos também técnicas de dança contemporânea e elementos relacionados ao teatro e à música", destalha a artista.

Em "Sirena", essa contaminação extrapola o universo da linguagem e aparece na criação de figuras mitológicas híbridas, em imagens sugeridas a partir de elementos característicos do flamenco, que vão sendo ressignificados ao longo dos personagens. Exemplo disso é a bata de cola - que se transforma no rabo da sereia e traz ainda uma sensação de mar, das ondas, das algas -, o mantón de manila (xale) - que se relaciona com as asas de uma harpia e o cabelo da medusa -, ou ainda o sapateado - que remete ao casco do fauno. Para além de questões meramente estéticas, essas mesclas também se abrem a temáticas transversais contemporâneas e apontam posicionamentos e escolhas políticas, como o debate sobre a marginalização de figuras híbridas na sociedade de modo mais amplo, os "purismos" de várias ordens e a representação da mulher.

Para Alexsandra Bertoli, todos que participam do núcleo de criação, cada um em sua função, ajudam a tecer sentidos e são estimuladores para a construção do espetáculo, que surgiu de uma proposta pessoal de Ivna. "A relação da intérprete-criadora com os elementos cênicos, a apropriação, a ressignificação deles, nos ajudando a construir esses outros híbridos que desejamos, gerando esse lugar de constante transformação durante o espetáculo inteiro", destaca.

SERVIÇO

SIRENA

Sesc Copacabana (Rua Domingos Ferreira, 160)

Até 24/3, de quinta a domingo (19h)

Ingressos: R$ 30, R$ 15 (meia) e R$ 7,50 (associados Sesc) e grátis (público PCG)

 

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